ESTRATÉGIAS UTILIZADAS POR ENFERMEIROS NA PROMOÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO NO PUERPÉRIO IMEDIATO1

ESTRATEGIAS UTILIZADAS POR ENFERMERAS EN LA PROMOCIÓN DE LA LACTANCIA MATERNA EN PUERPERIO INMEDIATO

STRATEGIES USED BY NURSES IN THE PROMOTION OF BREASTFEEDING  IN IMMEDIATE PUERPERIUM
Erika Fernandes Duarte2, Cristiane de Sousa do Espírito Santo2, Marcela Guimarães Câmara Couto2, Vera Lúcia França de Souza Andrade3, Rita de Cássia Pontes de Matos4, Érick Igor dos Santos5

1Artigo de Revisão.
2Enfermeira, Pelo entro Universitário Augusto Motta, Rio de Janeiro, brasil.
3Enfermeira, Mestre em Desenvolvimento da Criança pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa. Enfermeira Especialista em Enfermagem Pediátrica Pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Augusto Motta, Rio de Janeiro, Brasil.
4Enfermeira, Mestre em Enfermagem Pela Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Especialista em Enfermagem Obstétrica Pela Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras. Enfermeira do Projeto Sala de Parto da Maternidade Leila Diniz, Rio de Janeiro. Professora do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, Brasil.
5Enfermeiro, Mestre em Enfermagem Pela Faculdade de Enfermagem Rachel Haddock Lobo, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Enfermeiro Sanitarista pela Universidade Gama Filho. Professor do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Augusto Motta, Rio de Janeiro, Brasil. Autor Correspondente: Érick Igor dos Santos. Curso de Graduação em Enfermagem do Centro, Universitário Augusto Motta.  Av. Paris, 72 – Bonsucesso Rio de Janeiro CEP: 21041-020. Telefone: (21) 38829797. E-mail: ericksantos@unisuamdoc.com.br
Articulo recibido el 07 de Junio de 2013 y aceptado para su publicación el 10 de Julio de 2013.

RESUMO

Introdução: O aleitamento materno é uma prática que tem muitos benefícios para a mãe eo recém-nascido. Este estudo teve como objetivo identificar as estratégias utilizadas pelos enfermeiros na promoção do aleitamento materno no puerpério imediato, de acordo com a produção científica brasileira. Materiais e Métodos: Trata-se de um estudo descritivo de revisão integrativa da literatura realizada em revistas científicas, presentes na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), que inclui, entre outros, as bases de dados SciELO, LILACS e MEDLINE. Resultados: Com base nos critérios de inclusão e exclusão estabelecidos, foram selecionados 21 itens que originaram três categorias analíticas. Conclui-se que os enfermeiros têm as mais variadas estratégias para promover o aleitamento materno em puerpério imediato, seja educacional ou intersubjetiva. Discussão e Conclusões: Parece que, apesar dos esforços dos vários órgãos de saúde, ainda há barreiras para a implementação das medidas recomendadas. Há uma necessidade urgente de ações realizadas por enfermeiros a serem registrados, a fim de proporcionar maior visibilidade para a sua prática. (Rev Cuid 2013; 4(1): 523-30).

Palavras chave: Aleitamento Materno, Período Pós-Parto, Cuidados de Enfermagem, Enfermagem. (Fonte: DeCS BIREME).

RESUMEN

Introducción: La lactancia materna es una práctica que trae muchos beneficios para la madre y el recién nacido. Este estudio tuvo como objetivo identificar las estrategias utilizadas por los enfermeros en la promoción de la lactancia materna en puerperio inmediato de acuerdo con las producciones científicas brasileñas. Materiales y Métodos: Se trata de un estudio descriptivo de revisión integrada de la literatura llevada a cabo en revistas científicas, presentes en la Biblioteca Virtual en Salud (BVS), que incluye, entre otras, las bases de datos SciELO, LILACS y MEDLINE. Resultados: Con base en los criterios de inclusión y exclusión establecidas, se seleccionaron 21 artículos que se originaron tres categorías analíticas. Se concluye que las enfermeras tienen las más variadas estrategias para promover la lactancia materna en puerperio inmediato, ya sea educativas o intersubjetivas. Discusión y Conclusiones: Se observa que, a pesar de los esfuerzos de las diversas agencias de salud, todavía existen barreras para la aplicación de las medidas recomendadas. Existe una necesidad urgente de que las acciones realizadas por las enfermeras ser registradas con el objetivo de proporcionar una mayor visibilidad a su praxis.

Palabras clave: Lactancia Materna, Periodo de Postparto, Atención de Enfermería, Enfermería. (Fuente: DeCS BIREME).

ABSTRACT

Introduction: Breastfeeding is a practice that brings many benefits to the mother and the newborn. This study aimed to identify the strategies used by nurses on the promotion of immediate postpartum breastfeeding according to the Brazilian scientific productions. Materials and Methods: This is a descriptive study of an integrative literature review conducted in scientific journals present from the Virtual Health Library (VHL), which includes, among others, the databases SciELO, LILACS and MEDLINE. Results: Based on the established inclusion and exclusion criteria, there were 21 articles selected from which originated three analytical categories. It is concluded that nurses have the most varied strategies to promote immediate postpartum breastfeeding, whether educational or inter-subjective. Discussion and Conclusions: It is observed that, despite the efforts from various health agencies, there are still barriers to the implementation of the recommended actions. There is an urgent need for actions performed by nurses to be registered with the aim of providing greater visibility to their praxis.

Key words: Breast Feeding, Postpartum Period, Nursing Care, Nursing. (Source: DeCS BIREME).

INTRODUÇÃO

Amamentar é um fenômeno complexo, influenciado por aspectos culturais, sociais, emocionais, psíquicos e biológicos, sendo uma prática essencial para o crescimento e desenvolvimento da criança devido aos seus inúmeros benefícios.

O puerpério imediato é uma fase de mudanças hormonais e emocionais da vida da mulher. Nesse período, o enfermeiro - na qualidade de profissional mais próximo da nutriz -, precisa estar atento as possíveis complicações, demonstrar apoio emocional e orientar sobre essa fase de grandes transformações.

As primeiras horas após o nascimento são excelentes para iniciar a amamentação, visto que o recém-nascido geralmente está em alerta e com o reflexo de sucção ativo, o que estimula precocemente a produção de ocitocina e prolactina (1).

Os enfermeiros têm a propriedade de colocar sua formação e informação a serviço do bem-estar do binômio mãe-filho. Para isso é preciso conhecer a individualidade, humanizar o atendimento, constituir vínculo e apreender as necessidades e potencialidades de mães, pais, bebês e familiares para lidar com o processo de amamentação. No momento do parto as mães têm pouco ou nenhum poder de decisão para amamentar seus filhos na primeira hora de vida e, nesse momento de fragilidade a conduta profissional pode ser determinante da amamentação na sala de parto. No entanto, estudos mostram que mesmo sendo preconizado pela Organização Mundial da Saúde - OMS e pela United Nations Children's Fund - UNICEF e correspondendo ao passo quatro da Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), a prática do aleitamento materno na primeira hora de vida ainda enfrenta obstáculos. As rotinas hospitalares e estruturais da instituição de saúde acabam por interferir no tempo até a primeira mamada (2).

No Brasil, pode-se afirmar que o aleitamento materno é uma prática universal, haja vista que 95% das crianças iniciam a amamentação. Entretanto essa prática é abandonada precocemente, o que está ainda distante da recomendação da OMS. Apesar disto, são evidentes os avanços gradativos dos indicadores de aleitamento materno no Brasil desde a implantação do Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno (3).

No ano de 2008 a segunda pesquisa nacional de prevalência do aleitamento materno mostrou que apenas 67,7% das crianças iniciam a amamentação na primeira hora de vida (3). Este número parece sustentar a relevância de estudos que tenham o aleitamento materno no puerpério imediato como temática.

Quando em campo de estágio durante o curso de graduação em enfermagem, observou-se que, apesar das inúmeras iniciativas dos enfermeiros direcionadas a promoção do aleitamento materno, esses profissionais encontravam sérias barreiras, sejam elas culturais, infraestruturais, políticas, organizacionais, entre outras. Ademais, os esforços dos enfermeiros eram constantemente marcados por invisibilidade. Tais observações justificam a escolha do objeto de estudo desta pesquisa, que consiste na perspectiva das produções científicas brasileiras acerca das estratégias utilizadas por enfermeiros na promoção do aleitamento materno. Como objetivo, buscou-se identificar as estratégias utilizadas pelo enfermeiro para promover o aleitamento materno no puerpério imediato segundo as produções científicas brasileiras.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo foi de natureza qualitativa, de abordagem descritiva e de revisão integrativa de literatura (4). Esta última tem como objetivo principal a busca, interpretação e avaliação das evidências disponíveis do tema investigado e o seu produto final é a avaliação do estado atual de conhecimento do tema em questão visando programar ações efetivas na assistência à saúde e identificar lacunas que direcionem para a realização de pesquisas futuras (4-5).

A revisão integrativa de literatura é um método valioso para a enfermagem, pois possibilita análises minuciosas da literatura, assim como a síntese e explicitação do conhecimento sobre um determinado tema. Nesta modalidade de pesquisa, é necessário que o pesquisador percorra as seis etapas inerentes ao método (4). A primeira etapa consiste na identificação do tema e questão para a elaboração da revisão integrativa. Na segunda etapa foram estabelecidos os critérios de inclusão e de exclusão de estudos a serem buscados. A elaboração de um instrumento que organize e sumarize as informações consiste na terceira etapa. Neste estudo foi utilizada uma planilha no software Excel for Windows 2010®, que contou com as seguintes variáveis: ano de publicação, periódico, tipo de abordagem, sujeitos, cenário do estudo, metodologia da coleta de dados, principais resultados, local de publicação, palavras chaves utilizadas, região produtora, região brasileira estudada, nome e formação dos autores.  Essa etapa tem como objetivo formar um banco de dados de fácil acesso. Na quarta etapa ocorre a avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa, na qual o revisor faz uma análise crítica dos estudos procurando explicações para os resultados diferentes ou conflitantes nos diferentes estudos e auxilia na tomada de decisão para a utilização dos resultados de pesquisas.

Já na quinta etapa ocorre a interpretação dos resultados. Essa é a etapa de discussão dos principais resultados da pesquisa, na qual o revisor realiza a comparação dos estudos realizados com o conhecimento teórico, identifica as conclusões e implicações resultantes da revisão integrativa. A sexta e última etapa, por seu turno, compreende a apresentação da revisão/síntese do conhecimento. Essa etapa consiste na elaboração do documento que deve constar as etapas percorridas pelo revisor para os resultados da revisão (4-5). É importante explicitar que a quarta, quinta e sexta etapa foram aqui cumpridas ao longo do corpo textual.

O presente estudo iniciou-se com a escolha do tema. A coleta de dados ocorreu entre os meses de fevereiro a maio de 2012. A busca dos artigos foi realizada em periódicos científicos de enfermagem constantes a Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), que inclui dentre outras, as seguintes bases de dados informatizadas: Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Literatura Latino Americana do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e da Literatura Internacional  em Ciências da Saúde (MEDLINE). Para coleta de dados foram considerados os seguintes critérios de inclusão: a) periódicos publicados no Brasil; b) em português; c) cuja temática inclui aleitamento materno e cuidados de enfermagem, independentemente se o periódico pertence à área de enfermagem ou não; d) com disponibilidade em texto completo.

Como critério de exclusão delimitou-se: a) foram excluídos os artigos publicados em outros idiomas senão português; b) não foram considerados aqueles disponíveis apenas sob o formato de resumo; c) não foram inclusos aqueles cuja temática fugisse do objetivo proposto no estudo em tela; d) artigos duplicados, ou seja, presentes em mais de uma base de dados, seriam contabilizados como apenas um, sendo excluídas as repetições.  “Como descritores devidamente cadastrados no Portal de Descritores das Ciências da Saúde (DeCS), foram escolhidos “Aleitamento Materno” and “Cuidados de Enfermagem”, “Período Pós-Parto” and “Cuidados de Enfermagem”, “Período Pós-Parto” and “Enfermagem” e “Aleitamento Materno” and “Enfermagem”. Não foi delimitado um recorte temporal para a seleção dos estudos com vistas à identificação do maior número possível de publicações.

Para a seleção das publicações, inicialmente foram verificados título e resumo para verificar se eles estavam contemplados na temática deste estudo em questão. Em caso positivo, uma nova pré-análise era realizada na versão em texto completo, para verificar a compatibilidade/incompatibilidade do texto encontrado com cada um dos critérios de inclusão e/ou de exclusão estabelecidos.

RESULTADOS

Foram obtidas 131 produções ao todo. Dessas, 14 artigos foram excluídos por se encontrarem em mais de uma base de dados, 3 artigos foram  publicados em outro país, 2 estavam disponíveis apenas em formato de resumo e 91 não respondiam ao objetivo proposto neste estudo. Para análise, foram selecionados 21 artigos, frutos dos critérios de inclusão e de exclusão previamente estabelecidos (Quadro 1).

No tocante às regiões produtoras identificadas, onze artigos pertencem à Região Sudeste, sendo oito da cidade de São Paulo e três do Rio de Janeiro. Sete artigos são da Região Sul sendo um de Curitiba, um de Porto Alegre, um de Ijuí, um de Florianópolis, um de Maringá, um de Ponta Grossa e um do Rio Grande do Sul. A Região Nordeste produziu três artigos, sendo um de Recife, um de Feira de Santana e um de Fortaleza. Quanto a metodologia utilizada, dez artigos são de abordagem descritiva, dois de abordagem exploratória, um de pesquisa-cuidado, um de revisão bibliográfica, um estudo de caso, um relato de experiência, um de método etnográfico e um de revisão integrativa de literatura. Três não descreveram a abordagem metodológica utilizada. As técnicas de coleta de dados utilizadas foram entrevistas semiestruturadas (10), entrevistas estruturadas (2), questionários (2), e a partir de fontes bibliográficas (5). Dois estudos não especificaram a técnica de coleta utilizada. Os artigos identificados foram publicados entre 2000 e 2011, sendo 2009 o ano com maior número de publicações (7).

Quadro 1 - Versão Simplificada do Instrumento de Coleta de Dados, Rio de Janeiro

Fonte: Elaborado pelos autores.

DISCUSÃO

A partir da literatura analisada, foram categorizadas as estratégias utilizadas pelos enfermeiros para a promoção do aleitamento materno no puerpério imediato. As duas primeiras categorias emergentes dizem respeito à educação em saúde e ao acolhimento e humanização da assistência como estratégias. Transversal às duas categorias supracitadas, outra categoria emergiu, relacionada à utilização do conhecimento científico instrumentalizando as estratégias na práxis do enfermeiro para este fim. Ao todo, foram obtidas, então, três categorias, que serão exploradas a seguir.

Categoria 1 – Educação em Saúde

Essa categoria, evidenciada por oito artigos, diz respeito à vertente educativa nas ações do enfermeiro como educador na promoção do aleitamento materno.

Cabe aos profissionais da equipe de enfermagem a orientação necessária em todos os momentos do ciclo puerperal, especialmente no puerpério imediato onde se inicia o contato mãe/bebê podendo atuar mais efetivamente na promoção do aleitamento materno. Outro momento importante para a equipe de enfermagem educar as mães é durante as consultas de pré-natal, sanando as dúvidas no momento da amamentação. Dessa forma, as mulheres sentem-se mais seguras para dar continuidade a amamentação exclusiva fora do ambiente hospitalar (6).

As produções parecem concordar entre si, que a informação é fundamental para aumentar a autoconfiança da puérpera, de maneira que ela possa superar as adversidades. Evidenciou-se que as mães que recebem a correta orientação sobre a pega e posição correta para amamentar, a ordenha das mamas e sua frequência, e sobre os benefícios da amamentação para a mãe e para o bebê sentem-se mais seguras e confiantes (7-8). Desta maneira, o enfermeiro exerce papel fundamental na educação e assistência a população, inclusive nas consultas de pré-natal e puerpério, transmitindo confiança, esclarecendo as dúvidas e proporcionando um ambiente tranqüilo (9).

É importante orientar as mães quanto a frequência e o modo correto da ordenha, posto que este procedimento está indicado em múltiplas situações para manter a lactação (10). Para que isto aconteça, mostram-se interessantes algumas proposições (11), que utilizaram jogos educativos e lúdico-pedagógicos com as puérperas com temas sobre amamentação e os cuidados com o RN. Para elas, essa estratégia contribui para aquisição de conhecimento sobre o aleitamento materno, durante as atividades as mães ficam mais descontraídas e sem medo de expor suas experiências e dúvidas sobre o tema.

Identificou-se, ainda, dois tipos de tecnologias utilizadas pelo enfermeiro para promover o aleitamento materno: as tecnologias duras e leves (12). As tecnologias duras são atualmente as mais utilizadas pela equipe de enfermagem para promover o aleitamento materno, como o uso de vídeos, filmagens, folhetos e livretos educativos. O uso de filmagens ou vídeos parece facilitar a aquisição de conhecimento, reduzir a ansiedade e melhorar o autocuidado. Já as tecnologias leves são o aconselhamento e o estabelecimento de contato pele-a-pele entre mãe e bebê. No entanto, se faz necessário utilizar as tecnologias adequadas para cada binômio para que o cuidado prestado seja de qualidade.

Nessa categoria observamos que a informação e educação influenciam na decisão das mães em amamentar e manter a lactação. A amamentação somente ocorre de forma eficaz e duradoura quando as mulheres recebem as devidas informações e apoio no período gravídico puerperal (13). Portanto, mostrar os benefícios do aleitamento materno tanto para mãe quanto para o bebê, ajudar as mães a realizar o aleitamento materno, manter mãe e filho em alojamento conjunto, observar as mães no momento da amamentação são ações que podem ser utilizadas pelos enfermeiros com o objetivo de promover o aleitamento materno com segurança e, em somatório, reduzir o desmame precoce.

Por outro lado, somente a transmissão da informação não basta para que as mulheres tenham sucesso e motivação em amamentar. É preciso dar condições concretas para que mães e bebês vivenciem esse processo de forma prazerosa e eficiente. Também, é preciso vivenciar junto às puérperas as suas dificuldades e desejos, incluindo-se aí o de manter ou não a lactação (14-17).

Categoria 2 – Acolhimento e Humanização da Assistência

Esta categoria, evidenciada por nove artigos, versa sobre a presença do acolhimento nas ações do enfermeiro na promoção do aleitamento materno.

Foram encontrados estudos que investigaram a opinião dos familiares acerca dos fatores que levam as mulheres ao desmame precoce, suas crenças, tabus, valores e experiências anteriores que interferem na vida destas mulheres que estão amamentando pela primeira vez (18-19). Para esses autores cabe aos profissionais da saúde estar em contato com ambas às partes tanto as nutrizes quanto aos seus familiares informando sobre a importância da amamentação para a mãe e a criança e estar disposto a ouvir os familiares, não os excluindo desse momento, mas, tendo uma visão ampla e em nenhum momento se desfazer da opinião dos familiares (20).

Outros pesquisadores (20-21) se debruçaram sobre o processo da amamentação das crianças hospitalizadas e as dificuldades que as mães enfrentam, apontando a importância da assistência humanizada pela equipe de enfermagem, que inclui o estímulo participação e apoio familiar.

Em uma determinada pesquisa (22) constatou-se a importância para o enfermeiro do atributo da sensibilidade na observação das necessidades individuais de cada puérpera. Isto demanda aprendizado contínuo e compreensão da equipe de saúde e da família que cuida desta mulher.

O acolhimento também é destacado quando se encontra inserido em estratégias específicas, como o método Mãe Canguru, cujas vantagens estão além do ganho de peso mais acelerado - pois promovem fortalecimento da relação mãe e filho - minimizando o estresse físico e psicológico sofrido por ambos. Este método visa o fortalecimento da participação da família no cuidado do seu filho e ainda incentiva a promoção do aleitamento materno, tão importante para o crescimento e o desenvolvimento saudáveis (23). As vantagens deste método são: a) Favorecer o vínculo mãe-filho; b) Reduzir o tempo de separação mãe-filho; c) Melhorar a qualidade do desenvolvimento neurocomportamental e psicoafetivo do recém-nascido de baixo peso; d) Estimular o aleitamento materno, permitindo início mais precoce, maior frequência e duração; e) Permitir um controle térmico adequado; f) Favorecer a estimulação sensorial adequada do RN; g) Contribuir para a redução do risco de infecção hospitalar; h) Reduzir o estresse e dor dos RN de baixo peso; i) Propiciar um melhor relacionamento da família com a equipe de saúde (24).

Segundo alguns estudos (25), parece ser cada vez mais necessário que o profissional tenha postura realista, levando em consideração a totalidade dos condicionantes envolvidos na prática da amamentação. Ou seja, que ele possa ir ao encontro da mulher sem se deixar determinar pelas suas ideias ou preconceitos, disposto a compreender qual é o contexto em que vive o binômio mãe-bebê ou os problemas enfrentados no serviço de saúde. Nessa postura de abertura e de observação, a mulher se permite ser conhecida e o profissional tem a possibilidade de apreender suas vivências e de intervir de acordo com a realidade que se mostra, a partir daquilo que ela traz e do que ela é, ao invés daquilo lhe falta aprender, fazer ou seguir. 

Nessa categoria observou-se que o apoio dos familiares, da equipe de enfermagem e de todos os demais envolvidos influencia na decisão das nutrizes em amamentar e de manter a lactação. No momento após o parto a relação mãe e filho ainda não está bem estruturada (7). Portanto o papel da equipe de enfermagem – em especial neste momento - é o de apoiar, orientar, respeitar as crenças, valores e vivências da nutriz, enfatizando a importância do aleitamento materno.

Categoria 3 - Conhecimento Científico Instrumentalizando as Estratégias

Essa categoria discute a presença do conhecimento e do respaldo científico no dia-a-dia do enfermeiro na promoção do aleitamento materno. Nela estão reunidos quatro artigos. Apesar de não se tratar de uma ferramenta ou estratégia per se para a promoção do aleitamento materno, o conhecimento científico, o preparo profissional e a educação permanente se mostram como elementos que são imprescindíveis para a plenitude tanto da educação em saúde quanto da humanização do cuidado, de tal maneira que esta categoria se comporta como eixo transversal às duas categorias descritas até então.

Uma pesquisa (26) descreveu as dificuldades enfrentadas no cumprimento do segundo passo da IHAC, quanto ao treinamento de toda a equipe de saúde. Segundo esta autora, as dificuldades surgem mediante a falta de disponibilidade de tempo, obstáculos para reunião de todos e constantes mudanças no quadro de funcionários. Sem realizar esse passo da IHAC as mães dificilmente receberiam as devidas orientações, sairiam do hospital com dúvidas e, provavelmente, introduziriam mais precocemente outros alimentos ao neonato, o que contradiz os dez passos da IHAC. À semelhança deste, outro estudo (27), observou as dificuldades enfrentadas pela equipe de enfermagem para efetivação da IHAC como um todo. As principais dificuldades identificadas foram o número insuficiente de funcionários e o excesso de atribuições do enfermeiro e a falta de compromisso com a proposta. Os autores realizaram estratégias e estabeleceram propostas para o enfrentamento deste quadro. Uma delas foi realização periódica de reunião de equipe como algo que pode estimular o comprometimento por parte dos demais profissionais com a implantação das ações, em somatório à realização de avaliações sistemáticas da efetivação da proposta IHAC. Outra estratégia proposta é a criação de uma sala para orientações sobre aleitamento materno e para orientação dos cuidados gerais com o RN, com a designação de um trabalhador responsável somente pela promoção do aleitamento materno.

Evidências (28) apontam que, após treinamento com a equipe de enfermagem, foi possível melhorar algumas práticas hospitalares de apoio ao aleitamento materno utilizando os dez passos, mais especificamente o de números quatro e dez. Após o treinamento, foi constatada melhora no desempenho dos profissionais em colocar o bebê junto à mãe na sala de parto e, assim, as mães receberam ajuda para amamentar logo após o nascimento. São perceptíveis a importância da IHAC na promoção do aleitamento materno e a necessidade de realização de treinamentos e educação continuada da equipe de enfermagem para melhor atender as necessidades das puérperas e do recém-nato. Isto, em tese, deve subsidiar, inclusive, a detecção precoce dos riscos de amamentação ineficaz (29).

Nessa categoria observou-se a importância do conhecimento científico e das iniciativas de educação permanente para a concretização das políticas de saúde na promoção do aleitamento materno, principalmente a da Iniciativa Hospital Amigo da Criança. Uma equipe de enfermagem bem treinada no processo de lactação influencia diretamente a nutriz, ajudando-a, desta forma, na realização e manutenção do aleitamento materno (30).

CONCLUSÕES

Conclui-se que o enfermeiro dispõe de diversas estratégias para promover o aleitamento materno no puerpério imediato, estejam elas pautadas na educação em saúde ou no vínculo proporcionado pelo acolhimento. Em comum a essas duas ferramentas se encontra a presença do conhecimento científico com fator essencial para a plenitude das estratégias supracitadas, assim como das políticas de saúde existentes para este fim. Destaca-se que essas estratégias não são limitadas ao puerpério imediato, mas também se fazem presentes nas consultas de pré-natal, sobretudo. Dessa forma, a mulher pode chegar ao momento do parto e atravessá-lo melhor instrumentalizada para o processo decisório de amamentar seu bebê ainda na sala de parto. O enfermeiro, como educador por excelência, precisa entender e respeitar a individualidade de cada mãe quanto ao fato de amamentar ou não, sem deixar de enfatizar a importância da amamentação para a mulher e para o bebê.

Observa-se que, apesar das recomendações de diversos órgãos de saúde quanto ao aleitamento materno, as evidências científicas apontam que ainda há dificuldades na implementação das ações, principalmente no tocante ao quarto passo, fundamental para iniciar precocemente o vínculo mãe-filho e sanar as dúvidas das mães, o que poderia diminuir a ansiedade relacionada a esse momento de grandes transformações na vida da mulher e afastar a ameaça do desmame precoce.

Esse estudo permitiu a identificação de lacunas do conhecimento sobre a importância da promoção do aleitamento materno ainda na sala de parto e no puerpério imediato. Foram encontrados diversos artigos sobre o objeto, porém as estratégias realizadas pelos enfermeiros parecem pouco plurais, apesar da alta expressão e representatividade daquelas que foram identificadas. Este estudo, apesar de contribuir para maior visibilidade das ações dos enfermeiros, tem limitações proporcionadas pelos critérios de inclusão dos estudos, que não privilegiam a literatura internacional. Porém, aponta caminhos para que outras pesquisas investiguem e proponham ferramentas ou estratégias inovadoras para a promoção do aleitamento materno no puerpério imediato que possam ser aplicadas por profissionais de saúde e por enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, em especial, já que o enfermeiro é o profissional ideal e tem autonomia para levar o recém-nascido até a puérpera para iniciar precocemente o aleitamento materno, como preconiza OMS.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Barros OMS, Marin FH, Abrão VF. Enfermagem obstétrica e ginecológica: guia para a prática assistencial. 1ª ed. São Paulo: Roca; 2002.
  2. Boccolini CS, Carvalho ML, Oliveira MIC, Vasconcellos AGG. Fatores associados à amamentação na primeira hora de vida. Ver Saúde Pública 2011; 45(1): 69-78.
  3. Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno II Pesquisa de prevalência de aleitamento materno nas capitais brasileiras e distrito federal. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.
  4. Mendes KDS, Silveira RCCP, Galvão CMG. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enferm 2008; 17 (4):758-64.
  5. Santos ÉI, Gomes AMT, Oliveira DC, Santo CCE, Felipe ICV, Lima RS et al. The principle of comprehension in HIV/Aids context: an integrative review. Rev Pesq Cuid Fundam 2010; 2 (4):1387-98.
  6. Silva AV, Oliveira DM, Grei EVE, Gonçalves PC, Gesteira ECR. Fatores de risco para o desmame precoce na perspectiva das puérperas – resultados e discussão. Rev Inst Ciênc Saúde 2009; 27 (3): 220-5.
  7. Barreto CA, Silva LR, Marialda MC. Aleitamento materno: a visão das puérperas. Rev Eletrônica Enferm 2009; 11 (3): 605-11.
  8. Gaíva MAM, Leodina SM. Lactação insuficiente: uma proposta de atuação do enfermeiro. Ciênc Cuid Saúde 2006; 5 (2):255-62.
  9. Valezin DF, Ballestero E, Aparecido JC, Ribeiro JF, Marinho PCM, Costa LFV et al.  Instrumento educativo sobre alimentação de lactentes – baseado nas necessidades de conhecimento das mães. Rev Inst Ciênc Saúde 2009; 27 (1): 11-7.
  10. Demari L, Gomes JS, Stucky RMM, Kolankiewicz ACB, Loro MM, Rosanelli CLSP et al. Estratégias para promoção do aleitamento materno em recém-nascidos pré-termo: estudo bibliográfico. Pediatria 2011; 33 (2): 89-96.
  11. Fonseca LMM, Scochi CGS, Mello DF. Educação em saúde de puérperas em alojamento conjunto neonatal: aquisição de conhecimento mediado pelo uso de um jogo educativo.  Rev Latino-Am Enfermagem 2002; 10 (2): 166-71.
  12. Joventino ES, Dodt RCM, Araujo TL, Cardoso MVLML, Silva VM, Ximenes LB et lal. Tecnologias de enfermagem para promoção do aleitamento materno: revisão integrativa da literatura. Rev Gaúch Enferm 2011; 32 (1): 176-84.
  13. Barbosa V, Orlandi FS, Dupas G, Bereta MIR, Fabro MRC. Aleitamento materno na sala de parto: a vivência da puérpera. Cienc Cuid Saude 2010; 9 (2): 366-73.
  14. Silva IA. Enfermagem e aleitamento materno: combinando práticas seculares. Rev Esc Enferm USP 2000; 34 (4): 362-9.
  15. Almeida IS, Ribeiro IB, Rodrigues BMRD, Costa CCP, Freitas NS, Vargas EB et al. Amamentação para mães primíparas: perspectivas e intencionalidades do enfermeiro ao orientar. Cogitare Enferm 2010; 15 (1): 19-25.
  16. Leon CGRMP, Funghetto SS, Rodrigues JCT, Souza RG. Vivência da amamentação por mães-adolescentes. Cogitare Enferm 2009; 14 (3): 540-6.
  17. Brant PMC, Affonso HS, Vargas LC. Incentivo à amamentação exclusiva na perspectiva das puérperas. Cogitare Enferm 2009; 14 (3): 512-7.
  18. Pacheco STA, Cabral IE. Alimentação do bebê de baixo peso no domicílio: enfrentamentos da família e desafios para a enfermagem. Ver Esc Anna Nery 2011; 15 (2): 314-22.
  19. Teixeira MA, Nitschke RG. Modelo de cuidar em enfermagem junto às mulheres-avós e sua família no cotidiano do processo de amamentação. Texto Contexto Enferm 2008; 17 (1): 183-91.
  20. Monteiro JC, Gomes FA, Nakano AMS. Percepção das mulheres acerca do contato precoce e da amamentação em sala de parto. Acta Paul Enferm 2006; 19 (4): 427-32.
  21. Silva RV, Silva IA. A vivência de mães de recém-nascidos prematuros no processo de lactação e amamentação. Rev Esc Anna Nery 2009; 13 (1): 108-15.
  22. Catafesta F, Zagonel IPS, Martins M, Venturi KK. A amamentação na transição puerperal: o desvelamento pelo método de pesquisa-cuidado. Rev Esc Anna Nery 2009; 13 (3): 609-16.
  23. Freitas JO, Camargo CL. Método Mãe-Canguru: evolução ponderal de recém-nascidos. Acta Paul Enferm 2007; 20 (1): 75-81.
  24. Neves PN, Raveli APX, Lemos JRDL. Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo-peso (método mãe canguru): percepções de puérperas. Rev Gaúch Enferm 2010; 31 (1): 48-54.
  25. Souza MHN, Souza IEO, Tocantins FR. A utilização do referencial metodológico de rede social na assistência de enfermagem a mulheres que amamentam. Ver Latino-Am Enfermagem 2009; 17 (3): 354-60.
  26. Almeida GG, Spiri WC, Juliani CMCM, Paiva BSR. Proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno em um hospital universitário. Ciênc Saúde Coletiva 2008; 13 (2): 487-94.
  27. Bulhosa MS, Lunardi VL, Lunardi FWD, Gonçales SA. Promoção do aleitamento materno pela equipe de enfermagem em um hospital amigo da criança. Rev Gaúch Enferm 2007; 28 (1): 89-97.
  28. Coutinho SB, Lima MC, Ashworth A, Lira PI. Impacto de treinamento baseado na Iniciativa Hospital Amigo da Criança sobre práticas relacionadas à amamentação no interior do Nordeste. J Pediatr (Rio J) 2005; 81 (6): 471-7.
  29. Viera, CS. Risco para amamentação ineficaz: um diagnóstico de enfermagem. Rev Bras Enferm 2004; 57 (6): 712- 4.
  30. Figueiredo NMA, organizadora. Práticas de enfermagem: ensinando a cuidar da mulher, do homem e do recém-nascido. São Caetano do Sul: Yendis; 2005.