Rev Cuid. 2021; 12(1): e1944
http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.1944
Correlação entre diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem no cuidado ao paciente internado por COVID-19
Alba Luz Rodríguez-Acelas 1, Daniela Yampuezán Getial 2, Wilson Cañon-Montañez 3
Histórico
Recebido: 30 de setembro de 2020
Aceito: 2 de outubro de 2020
Publicado: 13 de novembro de 2020
Como citar este artigo: Rodríguez-Acela Alba Luz, Yampuezán Getial Daniela, Cañon-Montañez Wilson. Correlación entre diagnósticos, resultados e intervenciones de enfermería en el cuidado al paciente hospitalizado por COVID-19. Revista Cuidarte. 2021;12(1):e1944. http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.1944
Atribución 4.0 Internacional (CC BY 4.0)
A pandemia da COVID-19 confirmada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no ano 2020 é conhecida como uma doença respiratória infecciosa causada por um novo vírus pertencente à família coronaviridae, ele possui um genoma de ácido ribonucleico (ARN) de grande tamanho e simetria helicoidal, sua característica definidora são as espículas que tem em seu envelope vírico que lhe dão a forma de uma coroa; da mesma forma, essas espículas fazem com que ele possa, junto com as proteínas que se encontram no envelope, ancorar-se aos receptores da célula 1.
É bem conhecido que os diversos coronavírus como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) e atualmente a COVID-19 causaram desde resfriados comuns até doenças mais graves que levaram a complicações e resultaram na morte de um grande número de pessoas, a SARS em 2002 contagiou 8300 pacientes e causou 785 mortes, a MERS em 2012 relatou 1879 casos com uma taxa de mortalidade de 39% 2; A OMS realizou um monitoramento para relatar diariamente os casos confirmados e mortes por COVID-19 nas diferentes regiões do mundo 3; isto levando em conta que a doença tem uma taxa de reprodução de Ro= 2.28 por conta de sua rápida propagação em comparação com outros coronavírus 4, o que é facilitado por sua fácil transmissão via gotículas respiratórias (aerossóis) e pelo contato direto e indireto por fômites contaminados com esses aerossóis 5, além da falta de adesão às medidas de biossegurança por parte da população, o que causou um transbordamento no controle do vírus.
Estes dados crescentes desencadearam uma crise mundial que compromete diferentes âmbitos da população; no que tange à saúde, embora a OMS tenha divulgado algumas recomendações de prevenção, cada país aplicou suas medidas de controle para evitar a rápida propagação do vírus e o colapso do sistema de saúde. Já conhecemos que algumas pessoas podem ser assintomáticas, outras podem sofrer sintomas leves ou moderados que requerem cuidados domiciliares ou em áreas de assistência não críticas, mas há um número significativo de pessoas que apresentam uma deterioração acelerada e que requerem manejo na Unidade de Cuidados Intensivos, consideradas áreas com capacidade limitada devidoàs exigências de equipamentos e recursos humanos treinados, levando a um alto custo em suas estadias 4.
Neste contexto, a enfermagem vem assumindo um desafio nos diferentes campos de ação; naárea comunitária, ela procura favorecer as medidas de autocuidado como forma de empoderamento da população; no entanto, estas dependem em grande parte da observância das medidas de isolamento social, lavagem das mãos, uso de máscaras faciais, distanciamento social, evitando aglomerações, entre outros6; além das medidas específicas de isolamento para a população mais vulnerável e aqueles com alto risco de mortalidade pela doença, tais como idosos, pessoas com doenças crônicas ou problemas de imunossupressão devido a doenças secundárias a tratamentos1, para as quais foi implementado o isolamento preventivo obrigatório a fim de evitar complicações.
No que diz respeito às áreas hospitalares, a dinâmica dos cuidados está mudando e isso depende
da complexidade da condição do paciente, a infecção pode progredir para as formas mais
graves da doença, incluindo dispneia e dor torácica, compatíveis com pneumonia em 75% dos
casos 7. O período entre o início dos sintomas da COVID-19 até a morte varia entre 6 e 41 dias,
com uma mediana de 14 dias e muda dependendo da idade e do estado imune do paciente 8.
Todas estas variáveis inclinam a balança em direção ao cuidado crítico, que está repleto de
grandes desafios e vulnerabilidades para os profissionais e pacientes.
Neste contexto tão complexo, a enfermagem assume um papel cheio de desafios e focalizado
na dignificação do cuidado em todas as áreas de atendimento; entretanto, os maiores obstáculos
estão na transição do cuidado ao paciente internado por COVID-19, por um lado, está a necessidade
constante do profissional ampliar seu âmbito de conhecimentos, diante de um vírus
que evolui e transforma a perspectiva habitual do cuidado; por outro lado, o paciente está cheio
de incertezas e desconforto, mas com uma necessidade imperativa de cuidados abrangentes
que sejam consistentes com esta nova realidade, onde salvaguardar a vida e reestabelecer a
saúde são os objetivos primordiais 9.
Toda esta situação revelou o papel de liderança que a enfermagem
oferece através de cuidados individualizados,
planejados e suportados através da produção e validação
de conhecimentos próprios da disciplina e da prática
profissional em todos os âmbitos, buscando cuidados
relevantes e de qualidade para os pacientes, familiares,
cuidadores e comunidades 9.
Nesta perspectiva, o cuidado é organizado e orientado pelo Processo de Enfermagem (PE) 10 que surgiu como uma resposta à necessidade de orientar a prática em torno do pensamento crítico e do julgamento clínico como forma de alcançar os resultados esperados, de modo que os profissionais de enfermagem desenvolvam um atendimento adequado e racional na tomada de decisões 11. O PE é estruturado através de diferentes rotas, às vezes o profissional só tem a possibilidade de realizá-lo mentalmente; no entanto, atualmente este processo é apoiado em algumas instituições por sistemas informatizados, o que permite uma articulação completa com os Sistemas de Linguagem Padronizados (SLP): Diagnósticos de Enfermagem (NANDA-I) 12, Classificação de Resultados de Enfermagem (NOC) 13 e Classificação de Intervenções de Enfermagem (NIC)14, cada uma destas taxonomias participa de uma forma definida e organizada dentro do PE6.
A integração dos SLPs permite uma melhor visibilidade do cuidado, pois os diagnósticos favorecem
a consolidação do julgamento clínico, os resultados levam a uma medição do impacto da
assistência e as intervenções estão focadas em priorizar o atendimento que o paciente exige,
alcançando uma sinergia que converge em uma prática focada na solução das necessidades, o
que por sua vez beneficia a qualidade do cuidado. Esta estreita relação entre os SLPs é delineada
no planejamento, como referido na Tabela 1 através dos principais diagnósticos, resultados
e intervenções de enfermagem nos cuidados do paciente internado por COVID-19.
Tabela 1. Diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem identificados no cuidado ao paciente internado por COVID-19
A relação entre a NANDA-I, NOC e NIC no cuidado ao paciente internado por COVID-19, é um levantamento de dados que mostra a articulação do conhecimento disciplinar com as classificações de enfermagem na prática, visibilizando sua utilidade de forma sistemática no cuidado dirigido a esta população, a fim de acompanhar a evolução do cuidado dos pacientes através de resultados e intervenções 11.
Verifica-se na relação entre as classificações que há um
grande número de domínios alterados da NANDA-I e,
portanto, podemos inferir que, de acordo com o compromisso
do paciente, pode ser identificada a presença
de um ou vários diagnósticos de enfermagem, o que por
sua vez leva à seleção dos resultados NOC e das intervenções
NIC. Esta correspondência entre as classificações,
revela a necessidade de um cuidado congruente,
baseado em um julgamento crítico e suportado pela produção filosófica, conceitual, teórica e
investigativa própria da profissão.
Em conclusão, ainda que a evidência do cuidado orientado pelo PE e suportado pelas taxonomias 12 - 15 nos leve a apoiar o atendimento e o trabalho dos profissionais da enfermagem, ela
também promove a qualidade, a otimização do tempo, os indicadores, os recursos e as necessidades
dos indivíduos, que finalmente são a essência da profissão, onde o profissional de
enfermagem busca nortear o cuidado dos pacientes com COVID-19 a partir de uma perspectiva de pensamento crítico, tomando informações atualizadas sobre a doença e contribuindo para
a gestão da pandemia, tanto para o pessoal de saúde quanto para os pacientes, com base em
aspectos físicos, psicológicos e sociais, que impactam na saúde e bem-estar da população.
Conflito de interesses: Os autores declaram não ter nenhum conflito de interesses.
Referências