Rev Cuid. 2022; 13(2): e2323
http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.2323
REVIEW ARTICLE
Estratégias organizacionais no centro cirúrgico diante da pandemia de COVID 19: uma revisão integrativa
Organizational strategies in the operating room during COVID 19 pandemic: An integrative review
Estrategias organizacionales en el quirófano ante la pandemia de COVID 19: una revisión integradora
José Erivelton de Souza Maciel Ferreira1 Lídia Rocha de Oliveira2 Karoline Galvão Pereira3 Natasha Marques Frota4 Tahissa Frota Cavalcante5 Alana Santos Monte6 Anne Fayma Lopes Chaves7
Highlights:
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Recebido: 4 de julho de 2021
Aceito: 1 de março de 2022
Publicado: 8 de junho de 2022
Como citar este artigo: Ferreira José Erivelton de Souza Maciel, Oliveira Lídia Rocha de, Pereira Karoline Galvão, Frota Natasha Marques, Cavalcante Tahissa Frota, Monte Alana Santos, Chaves Anne Fayma Lopes. Estratégias organizacionais no centro cirúrgico diante da pandemia de COVID 19: uma revisão integrativa. Revista Cuidarte. 2022;13(2):e2323. http://dx.doi.org/10.15649/ cuidarte.2323
Resumo
Introdução: Os sistemas de saúde foram desafiados a desenvolver estratégias organizacionais para a prestação de cuidados cirúrgicos. Objetivo: Apresentar as estratégias dos serviços de saúde no que se refere às práticas de cuidados cirúrgicos em tempos de pandemia de COVID-19. Materiais e métodos: Revisão integrativa, desenvolvida em seis etapas, cuja busca dos artigos ocorreu na Biblioteca Virtual de Saúde, SciELO, PubMed e ScienceDirect. Os descritores controlados em saúde adotados foram “Centros Cirúrgicos” e “Infecções por Coronavírus”, de acordo com os sistemas DeCS e MeSH Terms. Foram selecionados 60 artigos de 405 estudos encontrados. Resultados: As principais estratégias utilizadas pelos serviços de saúde foram: a suspensão e adiamento de cirurgias eletivas durante as ondas de contágio da doença; e a triagem cuidadosa dos pacientes para COVID-19 antes e após intervenções cirúrgicas. Discussão: A suspensão e o adiamento de cirurgias eletivas devem ser avaliados com cautela pela equipe de saúde, de forma individualizada, para cada paciente, visto que situações clínicas não urgentes podem agravar ao longo do tempo, aumentando as chances de morbimortalidade desses pacientes. Conclusão: A triagem dos pacientes e dos profissionais da saúde para COVID-19 são estratégias importantes para evitar a contaminação desses sujeitos. A suspensão e o adiamento de cirurgias eletivas, durante as ondas de contágio por COVID-19, são recomendados para aumentar a capacidade de leitos disponíveis para pacientes graves hospitalizados por essa doença. Essa recomendação também auxilia no remanejamento de profissionais desse setor para as unidades com a demanda de cuidados de saúde mais elevada.
Palavras-chave: Infecções por Coronavírus; Centros Cirúrgicos; Procedimentos Cirúrgicos Operatórios.
Abstract
Introduction: Health systems were challenged to develop organizational strategies for the delivery of surgical care. Objective: To present the strategies of health services with regard to surgical care practices in times of the COVID-19 pandemic. Materials and Methods: An integrative review was conducted following six stages; the search for articles was performed using the Virtual Health Library, SciELO, PubMed, and ScienceDirect. The science descriptors adopted were “Surgicenters” and “Coronavirus Infections,” according to the DeCS-MeSH terms system. We selected 60 articles from 405 studies found. Results:The main strategies used by the health services were to suspend and postpone elective surgeries during waves of disease transmission and careful screening of patients with COVID-19 before and after surgery. Discussion: The suspension and postponement of elective surgeries should be carefully evaluated by the health team, individually for each patient since non-urgent clinical situations may worsen over time, increasing the chances of morbidity and mortality in these patients. Conclusions: Screening patients and health professionals for COVID-19, according to the reality of surgical units, centers or outpatient clinics, is an important strategy to avoid contamination of these subjects. The suspension and postponement of elective surgeries, during the waves of contagion by COVID-19, is recommended to increase the capacity of beds available for critically ill patients hospitalized for this disease. This recommendation also helps in the reassignment of professionals in this sector to the units with the highest demand for health care.
Key words: Coronavirus Infections; Surgicenters; Surgical Procedures, Operative.
Resumen
Introducción: Los sistemas de salud fueron desafiados a desarrollar estrategias organizacionales para la prestación de atención quirúrgica. Objetivo: Presentar las estrategias de los servicios de salud en relación a las prácticas de atención quirúrgica en tiempos de la pandemia por COVID-19. Materiales y métodos: Revisión integradora, desarrollada en seis etapas, cuya búsqueda de artículos se realizó en la Biblioteca Virtual en Salud, SciELO, PubMed y ScienceDirect. Los descriptores de salud adoptados fueron “Centros Quirúrgicos” e “Infecciones por Coronavirus”, según los sistemas DeCS y MeSH Terms. Seleccionamos 60 artículos de 405 estudios encontrados. Resultados: Las principales estrategias utilizadas por los servicios de salud fueron: la suspensión y postergación de cirugías electivas durante las oleadas de contagio de la enfermedad; y la detección cuidadosa de pacientes para COVID-19 antes y después de las intervenciones quirúrgicas. Discusión: La suspensión y postergación de cirugías electivas debe ser cuidadosamente evaluada por el equipo de salud, ya que situaciones clínicas no urgentes pueden empeorar con el tiempo, aumentando las posibilidades de morbilidad y mortalidad en esos pacientes. Conclusión: El triaje de dos pacientes y dos profesionales de la salud para COVID-19 son estrategias importantes para evitar la contaminación de estos sujetos. Se recomienda la suspensión y postergación de cirugías electivas, durante las olas de contagio por COVID-19, para aumentar la capacidad de camas disponibles para pacientes críticos hospitalizados por esta enfermedad. Esta recomendación también ayuda en la reasignación de profesionales de este sector a las unidades con mayor demanda de atención en salud.
Palabras clave: Infecciones por Coronavirus; Centros Quirúrgicos; Procedimientos Quirúrgicos Operativos.
Introdução
A pandemia causada pela COVID-19 afetou as práticas de cuidados cirúrgicas em todo o mundo1. Em vista disso, os profissionais da saúde têm visto a necessidade de que sejam formuladas e discutidas estratégias para manter a realização dos procedimentos cirúrgicos sem prejuízo às equipes e aos pacientes2.
O novo coronavírus (SARS-CoV-2) pode se apresentar sob a forma de aerossóis e se manter sob superfícies, disseminando-se principalmente através de gotículas em suspensão e por fômites. Esse agente infeccioso pode permanecer infectante por horas no ar, superfícies plásticas, aço inoxidável, papelão e cobre. O risco de contaminação por esse microrganismo é elevado, especialmente nos ambientes de cuidados cirúrgicos, pois diversos procedimentos realizados nesses locais são passíveis de formação de gotículas e aerossóis3.
O cenário global vivenciado no ano de 2021 atesta novas ondas de contaminação do SARS-CoV-24. Por isso, diante desse novo contexto epidemiológico, é necessário reorganizar os serviços de saúde, principalmente no âmbito das práticas de cuidados cirúrgicos, quanto à formulação de estratégias para a realização oportuna e segura do atendimento e do tratamento dos pacientes cirúrgicos. A pandemia de COVID-19 levou a uma superlotação dos serviços gerais de saúde e, com isso, precisaram diminuir o número de procedimentos eletivos para atender essa nova demanda1. Nos centros e ambulatórios cirúrgicos, essa medida visou evitar a disseminação dessa doença e prevenir complicações pós-operatórias associadas à infecção pelo novo coronavírus.
Contudo, tais medidas podem causar repercussões negativas à saúde dos indivíduos se não forem devidamente planejadas. Condições benignas e malignas, mesmo estabilizadas, podem se tornar incapacitantes, irreversíveis e/ou evoluir para a instabilidade do paciente. Dessa maneira, isso pode ocasionar piora na saúde da população, falência dos sistemas de saúde, devido ao acúmulo da lista de espera por procedimentos cirúrgicos e custos sociais elevados, visto que os órgãos governamentais precisaram custear aumentos substanciais no volume cirúrgico para solucionar as pendências5-6.
Em adição, os sistemas de saúde de vários países estão sendo desafiados a desenvolver estratégias organizacionais para manter a prestação de cuidados cirúrgicos aos pacientes. À vista disso, as instituições e profissionais de saúde devem estar aptos para atender a essa demanda, pois o risco de novos colapsos nos sistemas de saúde é real, frente às novas ondas de contaminação e à coexistência de tratamentos atrasados7.
Portanto, os riscos de expor os pacientes à infecção perioperatória pelo SARS-CoV-2, durante o percurso da realização dos procedimentos cirúrgicos, são altos, mas devem ser analisados contra os riscos de atrasos prolongados no tratamento8. Dessa forma, faz-se necessário formular e divulgar as estratégias produzidas pelas equipes de saúde dos centros cirúrgicos, frente à realização segura de cirurgias.
Destarte, ressalta-se a importância de apresentar o conteúdo produzido na literatura acerca das estratégias organizacionais utilizadas para manter a segurança do paciente e da equipe no período perioperatório, de forma que os procedimentos possam ser ofertados sem prejuízo na espera, mantendo a adesão aos protocolos e diretrizes para cirurgias seguras. Além disso, o conhecimento apresentado através deste estudo pode auxiliar as instituições e equipes de saúde de centros cirúrgicos a formularem suas estratégias para a manutenção da realização de suas práticas de cuidados cirúrgicos, prestando uma assistência em saúde multidisciplinar segura.
Nesse contexto, elencou-se a seguinte questão norteadora: quais as estratégias traçadas pelos serviços de saúde de cuidados cirúrgicos, para a manutenção do seu funcionamento seguro, durante a pandemia de COVID-19? Assim, o objetivo deste estudo foi apresentar o conhecimento produzido na literatura científica sobre as estratégias dos serviços de saúde no que se refere às práticas de cuidados cirúrgicos em tempos de pandemia de COVID-19.
Materiais e Métodos
Trata-se de uma revisão da literatura do tipo integrativa, caracterizada como um método de investigação que possibilita reunir, analisar e sintetizar pesquisas disponíveis sobre determinados temas de forma sistematizada. Para a elaboração desta revisão integrativa, seguiram-se as seguintes etapas9:
1) identificação do tema e construção da questão norteadora da pesquisa; 2) identificação do problema e objetivo do estudo; 3) busca de literatura; 4) coleta dos dados; 5) análise crítica dos resultados; e 6) apresentação da síntese.
O tema de interesse foi a organização dos serviços de saúde no que se refere às práticas de cuidados cirúrgicos seguros em tempos de pandemia de COVID-19. Nesses termos, formulou-se a seguinte questão norteadora: quais as estratégias traçadas pelos serviços de saúde de cuidados cirúrgicos para a manutenção do seu funcionamento seguro durante a pandemia de COVID-19?
A etapa de coleta de dados foi realizada a partir de consultas em bibliotecas, bases de dados e buscador acadêmico: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine (PubMed) e Science Direct. As bases de dados acessadas, a partir da BVS, foram: Banco de Dados de Enfermagem (BDENF), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE), Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud (IBECS), Coleciona SUS, Base Internacional de Guias GRADE (BIGG) e Bibliografía Nacional en Ciencias de la Salud Argentina (BINACIS).
Para as bases de dados acessadas a partir da BVS, adotaram-se os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), os quais foram cruzados da seguinte maneira: “Centros Cirúrgicos” AND “Infecções por Coronavírus”. Para as buscas internacionais, adotaram-se os descritores controlados pelo Medical Subject Headings of U.S. National Library of Medicine (MeSH), realizando-se os seguintes cruzamentos: “Surgicenters” AND “Coronavirus Infections”. O cruzamento entre os descritores com o operador booleano “AND” foi necessário, a fim de identificar apenas artigos que apresentassem os dois termos no mesmo estudo.
Definiram-se como critérios de inclusão os artigos científicos publicados e disponíveis eletronicamente na íntegra em português, inglês e espanhol, entre janeiro de 2020 e maio de 2021. O acesso aos estudos que não estavam disponíveis na íntegra nas bases de dados ocorreu a partir da Plataforma CAPES. Os artigos que se repetiram nas bases de dados e que não responderam à questão norteadora foram excluídos. A etapa de busca bibliográfica ocorreu entre fevereiro e maio de 2021. As bases de dados foram acessadas por um só pesquisador, em horários diferentes, sendo todas esgotadas em um único dia, com gravação da página de busca. A fase de busca e seleção dos estudos foi pareada. Adiante, na Figura1, encontram-se os resultados da busca bibliográfica nas bases de dados, onde está descrita a devida distribuição dos artigos encontrados e selecionados. O processo de identificação, triagem e inclusão está descrito em forma de fluxograma, baseado no modelo PRISMA10.
Figura 1. Fluxograma com os resultados da seleção dos estudos baseado no modelo PRISMA
Observa-se que foram encontrados 405 artigos. Todos foram lidos a partir de uma leitura dinâmica e flutuante, dada pela apreciação dos títulos e resumos, selecionando-se aqueles que possuíam interface com o tema de estudo para uma leitura na íntegra. Destes, 318 (78,51%) foram excluídos por se tratarem de manuscritos duplicados, não serem artigos (dissertações, teses, manuais e links de vídeos) e/ou por não responderem à questão norteadora desta revisão. Analisaram-se, exaustivamente, 87 (21,48%) artigos relacionados com o assunto, e, desses, 60 (14,81%) responderam às questões norteadoras. Os estudos duplicados encontravam-se dentro das próprias bases e dentro da própria BVS.
Um formulário de coleta de dados validado foi utilizado para a coleta dos dados de cada artigo da amostra final, e esse instrumento permitiu a aquisição de informações sobre a identificação do artigo, tipo de publicação, características metodológicas do estudo e nível de evidência11. O conjunto de dados deste estudo foi salvo no repositório público Mendeley Data12.
Resultados
A maioria dos estudos selecionados provém de bases de dados acessadas por meio da BVS (n = 57; 95%). A maioria foi publicado no ano de 2020 (n = 58; 96,66%), e os demais foram publicados no ano de 2021 (n = 2; 3,3%). Os periódicos que mais publicaram sobre a temática pesquisada foram os da área médica (n = 45; 75%). Os estudos estão disponíveis na língua inglesa, espanhola e portuguesa, estando a maioria deles em língua inglesa (n = 56; 93,3%).
Quanto ao nível de evidência dos artigos selecionados, observou-se que a maioria dos estudos traz evidências de nível 6, ou seja, derivadas de estudos descritivos ou qualitativos (38,3%). 20 (33,3%) artigos são de nível 7, por se tratarem de evidências advindas de autoridades e/ou relatórios de comitês de especialistas. Por fim, 15 (25%) artigos são evidências provenientes de estudos de coorte e de caso-controle bem delineados, e os outros 2 (3,3%) estudos trazem evidências de nível 5.
A seguir, na Adiante, na Tabela1, são apresentadas as estratégias que os serviços de saúde traçaram, no intuito de manter as práticas de cuidados cirúrgicos, de forma segura, durante a pandemia de COVID-19.
Tabela 1. Estratégias traçadas pelos serviços de saúde de cuidados cirúrgicos para o seu funcionamento seguro durante a pandemia de COVID-19
Estratégias de saúde dos serviços para o funcionamento das unidades cirúrgicas |
Artigos (%) |
Suspensão e adiamento de cirurgias eletivas durante os picos da doença13-51 |
(n = 39; 65%) |
Implantação da telemedicina para avaliação/acompanhamento dos pacientes com indicação cirúrgica e conscientização da população para se utilizar desta ferramenta25,28,36,37,39,43,44,52-57 |
(n = 13; 21,6%) |
Desenvolvimento de protocolos para reinício e ampliação gradual do quantitativo de cirurgias eletivas realizadas na fase pós-pico21,31-32,53,55,58-60 |
(n = 8; 13,3%) |
Oferta de treinamento constante à equipe cirúrgica: para realização segura de cirurgias de urgência por complicação ou não de COVID-19; para o reconhecimentode necessidades de intervenções intensivas; e para a utilização adequada dos Equipamentos de Proteção Individual27,29,36,40,61-65 |
(n = 8; 13,3%) |
Adaptação e modificação cultural, estrutural, organizacional e das práticas do serviço de saúde, para viabilizar o tratamento cirúrgico do paciente21,24,26,27,32,53,56,63,66,67 |
(n = 10; 16,6%) |
Realização de reuniões online de planejamento multidisciplinar, para discussão sobre pacientes com condições cirúrgicas urgentes46,53,57,68 |
(n = 4; 6,66%) |
Triagem cuidadosa dos pacientes e dos profissionais de saúde para COVID-19 antes e após uma intervenção cirúrgica21,22,24-28,31-35,37,40,42,45,46,48,53,55,56,66,69-73 |
(n = 26; 43,3%) |
Estratégias para prevenção de infeção e segurança de pacientes e profissionais na sala de cirurgia21,22,24,27,31,41,44,48,54,57,64,66,69,70,72, |
(n = 15; 25%) |
Estabelecimento de alta precoce para os pacientes internados no pós-operatório, com monitoramento/rastreamento para COVID-1944,69 |
(n = 2; 3,3%) |
Disposição e adaptação de checklists para supervisão e norteamento de atividades seguras no serviço cirúrgico55,63,70 |
(n = 3; 5%) |
Investimento em tecnologias, como impressão 3D, para impressão de matérias e Equipamentos de Proteção Individual e para monitoramento das atividades cirúrgicas30,73 |
(n = 2; 3,3%) |
Manutenção das atividades de educação dos residentes de saúde com readequações21,56 |
(n = 2; 3,3%) |
Desenvolvimento de ferramentas de apoio às decisões clínicas, para a admissão e monitoramento de pacientes cirúrgicos com ou sem COVID-1923,25,27,31,32,43,66,74 |
(n = 8; 13,3%) |
Desenvolvimento de escalas de trabalho mais flexíveis no serviço cirúrgico56,75 |
(n = 2; 3,3%) |
(n = 2; 3,3%) |
|
Criação de unidades cirúrgicas independentes para pacientes que requerem internação31 |
(n = 1; 1,6%) |
Implementação de equipes de resposta rápida, para transferências de pacientes e desinfecção de ambientes que receberam pacientes cirúrgicos com urgência33,63 |
(n = 2; 3,3%) |
Manter atividades cirúrgicas especializadas, segundo o risco real de mortalidade34-35,46-47,57,67,74 |
(n = 7; 11,6%) |
Iniciativas de apoio psicossocial aos profissionais de saúde envolvidos no tratamento de pacientes com COVID-1936,63 |
(n = 2; 3,3%) |
Proibição da presença de voluntários ou estagiários para fins educativos e formativos no hospital46 |
(n = 1; 1,6%) |
Aproximadamente 98% (n = 54) dos artigos selecionados destacaram, pelo menos, uma informação categorizada como uma estratégia traçada pelos serviços de saúde cirúrgicos, independentemente de serem públicos ou privados, para o atendimento seguro dos pacientes que necessitaram ou que necessitam desse tipo de serviço em meio a pandemia de COVID-19. As estratégias mais citadas e recomendadas foram a suspensão, o adiamento de cirurgias eletivas durante os picos da doença, para aumentar a capacidade de leitos disponíveis, e a triagem cuidadosa dos pacientes para COVID-19 antes e após sua submissão a procedimentos cirúrgicos. Esses estudos não revelaram as estratégias que tenham sido implementadas e avaliadas como não adequadas para a manutenção das práticas de cuidados cirúrgicos.
Discussão
Diante dos resultados obtidos, as evidências dos estudos13-18,24,26,29-32,35-40,42-45,48-53,56,58-62,66-68,71 enfatizam que as estratégias mais utilizadas e recomendadas em diversos hospitais e/ou centros ambulatoriais de referência cirúrgica nas mais diversas especialidades médicas são a suspensão e o adiamento de cirurgias eletivas durante os picos da doença, para aumentar a capacidade de leitos disponíveis. Outros estudos também afirmam que os reagendamentos das cirurgias para um momento oportuno seja o mais ideal, já que a necessidade de equipamentos, equipe e leitos assume um papel relevante, sendo o crescimento da doença exponencial73. Apesar desses achados, ressalta-se que o mais adequado seja analisar caso a caso, para que a demora no atendimento cirúrgico oportuno não traga prejuízos maiores à condição clínica do paciente.
Conforme a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)74, essas estratégias de precaução são realizadas com o intuito de diminuir a disseminação da doença, para que a exposição desnecessária seja evitada, requerendo das redes hospitalares públicas ou privadas prioridade na assistência a casos graves da COVID-19. A ANVISA solicitou, ainda, a organização de recursos e espaços das instituições de saúde, para atender pacientes acometidos pela COVID-19, pois pacientes com COVID-19 podem apresentam maior morbimortalidade no período pós-operatório, sendo que a sua maioria necessita de tratamento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Sendo assim, as pesquisas analisadas19,2023,28-30,32-38,42-44,47,48,50,53,56,60,61,64,66,70 salientam que a triagem cuidadosa dos pacientes para COVID-19 antes e após intervenções cirúrgicas e dos profissionais de saúde são recomendas. Essa medida possibilita o adequado manejo dos pacientes com suspeita ou confirmação de infecção por coronavírus dentro das unidades hospitalares. As recomendações que têm sido descritas em outros estudos75 não se contrapõem a esse achado, tendo em vista a necessidade de esses serviços de saúde seguirem diretrizes que traçam condutas eficientes na diminuição da propagação do vírus e contaminação durante os atendimentos. Embora a triagem prolongue o tempo de atendimento do paciente cirúrgico, essa recomendação é expressamente descrita como sendo recomendada e necessária.
Outras barreiras que influenciam diretamente os serviços de saúde e que foram citadas como estratégias são as prevenções de infeção e segurança do paciente e dos profissionais de saúde. Essa medida é preconizada pelo Ministério da Saúde/ANVISA na Resolução RDC nº 36 de 25 de julho de 20174, reforçando esse compromisso com a assistência aos pacientes em diversos âmbitos da saúde. A respeito desse compromisso, foi descrito por grande parte dos estudos20-21,23,29-30,32,37,42,47,54,57,59,64,66,72 que uma das estratégias mais recomendadas dentro das unidades cirúrgicas dizia respeito ao isolamento de casos suspeitos ou confirmados, separação de salas, ou colocação de pacientes em sala com pressão negativa, bem como desinfecção rigorosa de equipamentos e materiais, além do uso de Equipamentos de Proteção Individual. Esses tópicos listados dizem respeito à estratégia de prevenção de infecção dentro das unidades cirúrgicas76.
No contexto da pandemia de COVID-19, a tecnologia, de fato, veio contribuir ainda mais na assistência prestada aos pacientes, sendo o telefone cada vez mais utilizado como um instrumento útil no apoio de prevenção, diagnóstico e tratamento, ao reduzir o tempo das consultas, evitar o deslocamento de usuários e profissionais e favorecer o acesso a profissionais que desempenham serviços especializados77.
Em um estudo publicado sobre a resposta de um serviço de cirurgia plástica à COVID-19 em um dos maiores hospitais de ensino da Europa, foi visto que a telemedicina reduziu o contato físico com o paciente, diminuindo o risco de infecção e prorrogando a internação, e, após a alta, continuava-se com o atendimento online . Estando em concordância com os resultados encontrados pelos autores13,19,21,33,34,35,38,49,50,52,58,59,72,foi definida como estratégia o uso da telemedicina para avaliar as indicações cirúrgicas e conscientização da população. No entanto, os custos são elevados para se montar uma estrutura de telemedicina, muito embora facilitem os atendimentos e aproximem a população das tecnologias mais modernas79.
Sabe-se que toda cirurgia, independentemente do seu porte, precisa, para sua realização, de uma logística mínima, organização, estabelecimento de práticas e implementação de novos protocolos e rotinas. Assim sendo, estudos apontam que a adaptação e a modificação cultural, estrutural, organizacional e de práticas são importantes estratégias adotadas e recomendadas durante a pandemia19,29,32,34,36,37,43,55,64,65.
Em concordância com esses achados, os pesquisadores retratam que é de extrema importância considerar os riscos, bem como elaborar planos de medidas logísticas para o manejo do paciente cirúrgico suspeito ou confirmado com COVID-19, além de orientar a equipe como melhor atender o paciente76.
Os resultados de boa parte dos estudos incluídos nesta revisão14,18,19,22,29,33,42,43,39,41,49,53,55,57,63 corroboraram com a compreensão de que o desenvolvimento de ferramentas de apoio às decisões clínicas para admissão, monitoramento, oferta de treinamento para as equipes, intervenções intensivas, utilização de Equipamento de Proteção Individual, bem como o desenvolvimento de protocolos antes, durante e após o procedimento cirúrgico e protocolos adotados para reinicio de cirurgias pós-pico de COVID-19, são estratégias utilizadas e recomendadas pelos serviços de saúde para funcionamento do centro cirúrgico no momento de pandemia.
A esse respeito, evidencia-se que a adoção de protocolos torna a comunicação e a assistência eficazes, proporcionando um cuidado mais seguro e que só se garantem condições quando o processo de trabalho é monitorado77. Além disso, é essencial a participação ativa dos profissionais de saúde para a construção efetiva das estratégias.
De acordo com o que foi observado, as instituições de saúde devem avaliar epidemiologicamente o local e a região, para considerar a retomada das atividades cirúrgicas, a fim de não aumentar a possibilidades de contágio entre pacientes e profissionais, levando em consideração as taxas de ocupação de leitos de UTI e utilização de drogas anestésicas. Portanto, deve-se priorizar as cirurgias de emergência, urgência e urgência eletiva, com especificidade para COVID-19. Para as cirurgias eletivas essenciais e não essenciais, deve-se considerar o reagendamento5. Em consonância a este estudo, estudiosos45,46,48,61,62,65,72 apontam que as atividades cirúrgicas especializadas com risco real de mortalidade específica deveriam ser mantidas pelas instituições hospitalares. Em outros estudos, foi discutido o planejamento das cirurgias eletivas mais urgentes, de tal modo que a ideia acima denota a necessidade de avaliar e planejar com base nos riscos de necessidades cirúrgicas19,27,61,72.
Observa-se, portanto, que a manutenção das atividades voltadas para educação dos profissionais nesse período foi fundamental para a implantação de protocolos de checklist, que norteavam as equipes na realização de atividades, rastreamento e monitoramento dos pacientes suspeito ou confirmados. Além de alta precoce, enfatiza-se o uso de tecnologia de ponta, rodízio de escalas, redução de profissionais para minimizar a exposição, comitês de gestão e uma rede de apoio psicossocial para os profissionais lidarem com a situação20,25,40.
Para a organização do centro cirúrgico no contexto da pandemia80, ações relevantes necessitam de decisões compartilhadas entre todos os profissionais, pois oportunizam possibilidades de melhorias e reorganização do serviço do centro cirúrgico, garantindo segurança aos pacientes e à equipe multiprofissional durante a pandemia de COVID-19.
Outros achados relevantes, porém, com pouca citação61, indicavam a proibição da presença de voluntários ou estagiários, para fins educativos e formativos no hospital, como estratégia para minimizar os riscos de contaminação nos serviços de saúde. A criação de unidades cirúrgicas independentes para pacientes que requerem internação também apresentou poucas evidências.
Diante de tal revisão integrativa, foi possível identificar diversas práticas e estratégias desenvolvidas dentro das instituições de saúde, com o intuito de promover a segurança do paciente e dos profissionais de saúde no contexto da pandemia. Com relação às limitações deste estudo, destaca-se que, embora se tenha obtido uma amostra significante de artigos científicos, não foi possível esgotar todas as bases de dados existentes e nem realizar mais de uma estratégia de cruzamento de descritores.
Conclusão
Diante dos resultados apresentados neste estudo, foi possível identificar as principais estratégias formuladas e utilizadas pelos serviços de saúde, para a manutenção das práticas de cuidados cirúrgicos, durante a pandemia de COVID-19. A triagem dos pacientes e dos profissionais de saúde para COVID-19, conforme a realidade das unidades, centros ou ambulatórios cirúrgicos, é importante estratégia para evitar a contaminação desses sujeitos. A suspensão e o adiamento de cirurgias eletivas durante as ondas de contágio por COVID-19 são recomendados para aumentar a capacidade de leitos disponíveis para pacientes graves hospitalizados por essa doença. Essa recomendação também auxilia no remanejamento de profissionais desse setor para as unidades com a demanda de cuidados de saúde elevada.
Apesar da suspensão e adiamentos de cirurgias eletivas terem sido elencadas como estratégias para a manutenção das práticas de cuidados cirúrgicos em saúde durante a pandemia, destaca-se que essa situação deve ser avaliada com cautela pela equipe de saúde, de forma individualizada, para cada paciente, visto que situações clínicas não urgentes podem agravar ao longo do tempo, aumentando a chance de morbimortalidade dos pacientes. Estudos sobre a temática com foco nos impactos e na eficiência dessas estratégias adotadas para a manutenção das práticas de cuidados nos setores cirúrgicos devem ser realizados.
Por fim, ressalta-se que as evidências deste estudo podem auxiliar aos profissionais de saúde atuantes em centros cirúrgicos na elaboração e utilização de estratégias para a manutenção das práticas cirúrgicas de forma segura. Além disso, podem beneficiar a divulgação de conhecimento científico acerca das mudanças já realizadas nos serviços de saúde, frente à COVID-19, e podem servir de norteamento para o delineamento de novas estratégias, considerando as novas ondas de contágio da doença.
Conflitos de interesse: Os autores declaram não apresentar conflitos de interesse.
Referências