Rev Cuid. 2023; 14(1): e2594
http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.2594

REVIEW ARTICLE

 

Aplicativos móveis direcionados aos idosos para autogerenciamento do cuidado: revisão de escopo

 

Mobile apps aimed at the elderly for self-management of care: scoping review

 

Aplicaciones móviles dirigidas a personas mayores para la autogestión del cuidado: revisión del alcances

 

 

 

Manoelise Linhares Ferreira Gomes1 Cristina da Silva Fernandes2 Maria Gabrieli Aguiar de Sousa3 Raimunda Leandra Bráz da Silva4Illeanne de Jesus Manhiça da Costa Silva5 Lívia Moreira Barros6

 

    1. Universidade Estadual do Ceará (UECE), Fortaleza-CE, Brasil. E-mail: manoeliselfg@gmail.com
    2. Universidade Estadual do Ceará (UECE), Fortaleza-CE, Brasil. E-mail: cristina.sednanref@gmail.com Autor de correspondência
    3. Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), Sobral-CE, Brasil. E-mail: gabrielleaguiargg@gmail.com
    4. Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), Sobral-CE, Brasil. E-mail: leandrabraz7@gmail.com
    5. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Redenção-CE, Brasil. E-mail: Ileannesilva3@gmail.com
    6. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Redenção-CE, Brasil. E-mail: livia.moreirab@hotmail.com

 

    Highlights:

    • É necessário elaborar e validar aplicativos que possam nortear o autogerenciamento do cuidado de pacientes idosos.

    • Os enfermeiros são essenciais no processo de autogerenciamento do cuidado dos idosos.

    • O uso da tecnologia auxilia o cuidado de idosos.

    • O desenvolvimento de revisões de literatura é um passo essencial para apoiar a prática baseada em evidências.

 


    Como citar este artígo: Gomes, Manoelise Linhares Ferreira; Fernandes, Cristina da Silva; Sousa, Maria Gabrieli Aguiar de; Silva, Raimunda Leandra Bráz da; Silva, Illeanne de Jesus Manhiça da Costa; Barros, Lívia Moreira. Aplicativos móveis direcionados aos idosos para autogerenciamento do cuidado: revisão de escopo. Revista Cuidarte. 2023;14(1):e2594. http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.2594

    Recebido: 21 de dezembro de 2021
    Aceito:
    03 de novembro de 2022
    Publicado:
    03 de marzo de 2023

     

    E-ISSN: 2346-3414


 

Resumo

 

Introdução: o uso de aplicativos móveis pode facilitar o autogerenciamento em saúde e oportunizar a autonomia dos idosos no seu autocuidado. Objetivo: mapear a produção científica sobre aplicativos móveis para autogerenciamento do cuidado direcionados aos idosos. Materiais e Métodos: revisão de escopo realizada no período de setembro de 2020 a janeiro de 2021, a partir das bases de dados: MEDLINE, SciELO, Scopus, Web of Science e Science Direct, mediante a estratégia de busca: (“Self-management” OR “Self-care”) AND (Elderly OR “Old man”) AND (“Mobile Applications” OR Smartphone OR “Cell phone”), com a inclusão de artigos que tratassem do uso de aplicativos móveis por idosos para o autogerenciamento do cuidado, sem delimitação de tempo e idioma. Resultados: a amostra final compôs-se de 14 artigos, categorizados em três vertentes de gerenciamento, a saber: medicamentos, comorbidades e práticas saudáveis. Na maioria dos estudos, os aplicativos foram direcionados ao autogerenciamento dos medicamentos, seguidos dos cuidados de condições crônicas e por último a autoavaliação do risco de quedas e tratamentos não-farmacológicos da dor. Discussão: esta revisão contribui para a prática clínica e pesquisa em enfermagem, uma vez que seus resultados apontam o que há publicado sobre o desenvolvimento e uso de aplicativos móveis por idosos para o autogerenciamento do cuidado. Conclusões: o uso de aplicativos móveis facilita o autocuidado da população idosa, principalmente, na gestão de medicamentos para condições crônicas.

Palavras-Chave: Enfermagem; Saúde do Idoso; Aplicativos Móveis; Autogestão.

 


Abstract

 

Introduction: the use of mobile applications can facilitate self-management in health and provide opportunities for the autonomy of the elderly in their self-care. Objective: to map the scientific production on mobile applications for self-management of care aimed at the elderly. Materials and Methods: scope review carried out from September 2020 to January 2021, based on the following databases: MEDLINE, SciELO, Scopus, Web of Science and Science Direct, using the search strategy: (“Self-management” OR “Self-care”) AND (Elderly OR “Old man”) AND (“Mobile Applications” OR Smartphone OR “Cell phone”), with the inclusion of articles dealing with the use of mobile applications by the elderly for self-management of care, without time and language limitations. Results: the final sample consisted of 14 articles, categorized into three aspects of management, namely: medications, comorbidities and healthy practices. In most studies, applications were aimed at self-management of medications, followed by care for chronic conditions and finally self-assessment of the risk of falls and non-pharmacological pain treatments. Discussion: this review contributes to clinical practice and nursing research, as its results point to what has been published about the development and use of mobile applications by the elderly for self-management of care. Conclusions: the use of mobile applications facilitates self-care for the elderly population, especially in the management of medication for chronic conditions.

KeyWords: Nursing; Health of the Elderly; Mobile Applications; Self-Management.


Resumen

 

Introducción: el uso de aplicaciones móviles puede facilitar la autogestión en salud y brindar oportunidades para la autonomía de las personas mayores en su autocuidado. Objetivo: mapear la producción científica en aplicaciones móviles para la autogestión del cuidado dirigido a las personas mayores. Materiales y Métodos: revisión de alcance realizada desde septiembre de 2020 a enero de 2021, con base en las siguientes bases de datos: MEDLINE, SciELO, Scopus, Web of Science y Science Direct, utilizando la estrategia de búsqueda: (“Self-management” OR “Self-care”) AND (Elderly OR “Old man”) AND (“Mobile Applications” OR Smartphone OR “Cell phone”), con la inclusión de artículos que tratan sobre el uso de aplicaciones móviles por parte de los ancianos para la autogestión de cuidado, sin limitaciones de tiempo e idioma. Resultados: la muestra final constó de 14 artículos, categorizados en tres aspectos del manejo, a saber: medicamentos, comorbilidades y prácticas saludables. En la mayoría de los estudios, las aplicaciones estuvieron dirigidas al autocontrol de los medicamentos, seguido de la atención de las condiciones crónicas y finalmente la autoevaluación del riesgo de caídas y los tratamientos no farmacológicos del dolor. Discusión: esta revisión contribuye a la práctica clínica y la investigación en enfermería, ya que sus resultados apuntan a lo publicado sobre el desarrollo y uso de aplicaciones móviles por parte de los ancianos para la autogestión del cuidado. Conclusiones: el uso de aplicaciones móviles facilita el autocuidado de la población anciana, especialmente en el manejo de la medicación para enfermedades crónicas.

Palabras Clave: Enfermería; Salud del Anciano; Aplicaciones Móviles; Automanejo.


 

Introdução 

A transição demográfica tem contribuído para o crescimento do índice de envelhecimento como fenômeno mundial, caracterizado pelo processo de senescência, permeado por mudanças irreversíveis, e não patológicas, com o surgimento de inabilidades, e o aumento da fragilidade e dependência, caracterizado pela senilidade1. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica por idosos todos os sujeitos com idade superior a 65 anos nos países desenvolvidos; já nos em desenvolvimento, essa condição é antecipada para 60 anos2.

No mundo, em 2020, havia 1,1 bilhão de idosos, com projeção de 3,1 bilhões em 2100, o que converge com o cenário brasileiro, que apresentava 29,9 milhões em 2020 e previsão de 72,4 milhões em 21003. Desse modo, é pertinente a preocupação dos profissionais da saúde, a exemplo da Enfermagem, acerca da segurança e cuidado desse público.

Nesse sentido, tem-se percebido avanços na criação de tecnologias de informação e comunicação (TIC) associadas à saúde, o que oportuniza melhorias na qualidade de vida dos idosos4. O uso de smartphones tem propiciado recursos para otimizar a promoção da autonomia e autogerenciamento em saúde. Nos dispositivos eletrônicos, as intervenções são desenvolvidas mediante aplicativos na internet, executados via software, que permitem a interação entre os sujeitos5. Além disso, a utilização desses recursos pode aperfeiçoar os conhecimentos dos idosos e aprimorar o autocuidado4.

Estudo desenvolvido na Suécia identificou que os idosos têm optado pelo uso de aplicativos móveis, pois favorecem o relato dos problemas aos profissionais de saúde, sendo por eles monitorados4. Acredita-se que os aplicativos tentam oportunizar planos de autogerenciamento do cuidado6.

O autogerenciamento do cuidado é definido como processos e comportamentos para gerenciar a condição de saúde, a exemplo do uso de medicamentos, obtenção de prescrições e mudanças no estilo de vida, e ocorre no contexto do indivíduo, família, comunidade e sistemas de saúde, e pode ser influenciado por fatores externos7.

Um estudo de revisão sistemática inferiu que os aplicativos podem auxiliar no manejo da dor5 e na segurança frente ao risco de quedas. Diante disso, o autogerenciamento em saúde oportuniza a autonomia e a capacidade de intervenção dos idosos no seu autocuidado8.

Salienta-se a importância da Educação em Saúde com enfoque no manuseio de aplicativos com temáticas relacionadas aos cuidados de Enfermagem. Faz-se necessário o incentivo a estudos acerca da utilização de TIC como intervenção de Enfermagem, a fim de contribuírem com a Prática Baseada em Evidências5,8.

Justifica-se este estudo a partir da necessidade de mapear a produção científica sobre a utilização de aplicativos, em dispositivos móveis, como intervenção de enfermagem frente ao processo saúde-doença de idosos. Verifica-se a relevância da pesquisa na produção teórica sobre o autogerenciamento do cuidado por meio dos aplicativos de smartphones. Assim, o estudo objetiva mapear a produção científica sobre aplicativos móveis para autogerenciamento do cuidado direcionados aos idosos.

Materiais e Métodos

Revisão de escopo, realizada no período de setembro de 2020 a janeiro de 2021, a partir do referencial teórico-metodológico The Joanna Brigs Institute for Scoping Reviews9. O desenho do estudo foi integrado aplicando-se a metodologia População, Conceito e Contexto (PCC) para nortear a coleta de dados9.

A estratégia PCC é uma mnemônica que auxilia na identificação dos tópicos-chave: População, Conceito e Contexto. A população elencada foram os idosos, o Conceito englobou o autogerenciamento do cuidado e o Contexto está relacionado ao uso de aplicativos móveis em diferentes cenários. Conciliando os tópicos-chave da PCC com o objetivo do estudo, a constituiu-se a questão de pesquisa: quais aplicativos móveis para autogerenciamento do cuidado, direcionados aos idosos, estão descritos na literatura?

Realizou-se buscas nas seguintes bases de dados: National Library of Medicine-USA (Medline), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Scopus, Web of Science e Science Direct, mediante descritores identificados no Medical Heading Subjects (MeSH) e Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), com os quais definiu-se a estratégia de busca: (“Self-management” OR “Self-care”) AND (Elderly OR “Old man”) AND (“Mobile Applications” OR Smartphone OR “Cell phone”).

Para coleta dos dados, dois revisores realizaram, de forma independente, a leitura de título e resumo das publicações para a seleção dos estudos. Os critérios de inclusão foram: artigos que responderam à questão de pesquisa, sem delimitação de tempo e idioma. Excluiu-se às publicações duplicadas.

A extração dos dados ocorreu mediante a utilização de instrumento semiestruturado desenvolvido pelos autores, que incluiu informações acerca do título, autores, ano de publicação, periódico, método, principais resultados, conclusão e nível de evidência, a saber: nível I - metanálises, estudos controlados e randomizados; nível II – ensaio clínico randomizado (ECR); nível III - estudos quase-experimentais; nível IV - estudos descritivos, não experimentais ou qualitativos; nível V - relatos de experiência e de caso; e nível VI - opinião e consensos de especialistas10.

Os dados foram analisados a partir de recomendações da The Joanna Brigs Institute for Scoping Reviews9, categorizados em três vertentes de gerenciamento, a saber: medicamentos, comorbidades e práticas saudáveis; agrupados em quadro descritivo.

Resultados 

Foram incluídos 14 artigos. A seleção dos estudos ocorreu conforme recomendado pelo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA)(9), de acordo com a Figura1.

 

 

Figura 1. Processo de identificação e inclusão dos estudos - Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) diagram flow.

 

Dos documentos selecionados, todos são de língua inglesa, dois tiveram publicação em 2014, um em 2015, 2016, 2017 e 2018, três em 2019 e cinco em 2020. Os artigos foram publicados nos periódicos: JMIR Mhealth Uhealth, Journal of Medical Internet Research, Medicine, Int. J. Healthcare Technology and Management, Journal of Biomedical Informatics, JMIR aging, Heathcare Informatics Research, S. Karger, JMIR Res Protoc, BMC Health Services Research, Plos One, International Journal of Medical Informatics, Jpn J Nurs Sci.

Houve prevalência de estudos descritivos qualitativos (cinco), pesquisas quase-experimentais (quatro), Ensaio Clínico Randomizado (três), método misto (um) e analítico (um). Quanto aos níveis de evidências, três foram classificados como nível II, quatro como nível III, e sete como nível IV. Em relação ao país de desenvolvimento dos estudos, dois foram no Canadá, Japão, Estados Unidos, Espanha e Alemanha; e um na Noruega, Inglaterra, Coreia do Sul e China.

O Quadro1 apresenta a síntese dos estudos incluídos na revisão, contendo objetivo, amostra, aplicativo utilizado, desenho do estudo e as principais conclusões. Salienta-se que os artigos foram identificados pela letra “A” seguida da ordem de análise.

 

Quadro 1. Caracterização dos estudos incluídos na revisão. Sobral- CE, Brasil, 2021.

 

 

Objetivo

N

Aplicativos utilizados

Desenho do estudo
Principais conclusões
A111 Explorar a usabilidade dos aplicativos por idosos para o autogerenciamento de medicamentos. 35

MyMedRec; DrugHub; Pillboxie e Pocket Pharmacist

Estudo quase- experimental Os aplicativos apresentaram boa usabilidade pelo público-alvo e sua participação no desenvolvimento da ferramenta pode diminuir a insegurança nas aplicações.
A212 Construir, implementar e avaliar um aplicativo de autogerenciamento para pacientes idosos em uso de múltiplos medicamentos. 99 ALICE Ensaio clínico randomizado O aplicativo ALICE melhora a adesão, ajuda a reduzir as taxas de esquecimento, erros de medicação e aumenta a percepção de independência no manejo de medicamentos.
A313 Analisar como um aplicativo de autogestão de medicamentos afeta a adesão terapêutica em pacientes idosos 24 Plano de medicação Estudo experimental do tipo antes e depois O aplicativo móvel aumentou a adesão medicamentosa em usuários idosos submetidos ao seu uso.
A414 Desenvolver e avaliar um aplicativo que transforma códigos de barras associados a medicamentos em instruções verbais para pacientes idosos. 61 TUMEDICINA Estudo quase- experimental Os resultados do estudo apoiam o uso dessa tecnologia para aumentar a segurança dos pacientes que fazem uso de múltiplos medicamentos.
A515 Explorar como idosos com Diabetes Tipo 2 e Hipertensão usam um aplicativo desenvolvido para ajudar a gerenciar essas condições. 12 TAPESTRY-CM Healthy Lifestyle Estudo descritivo Apesar da avaliação positiva dos participantes, sugeriu-se melhorias em relação ao conteúdo e layout do aplicativo.
A616 Examinar o uso de monitores de saúde para mudanças no estilo de vida entre idosos com Diabetes. 9

Lose It

Estudo analítico Os resultados são positivos, mas sugerem novos estudos com grupo controle para confirmar os resultados. 
A717 Desenvolver um aplicativo que auxilia o autogerenciamento de Diabetes Tipo 2 e Pré-diabetes. 522 GlucoNote Ensaio Clínico Randomizado O GlucoNote ofereceu oportunidade para autogerenciamento das condições clínicas analisadas.
A818 Avaliar a aceitabilidade dos usuários sobre um aplicativo para autogerenciamento de Diabetes. 26 Few Touch, One Touch Estudo descritivo Observou-se positividade para aceitabilidade prática e social, o que fomenta a utilização da ferramenta em outros cenários.
A919 Examinar a usabilidade, por pacientes diabéticos, de um glicosímetro conectado a smartphones. 12 iBG-Star Estudo descritivo Os autores apontam que para sucesso da tecnologia é necessário o desenvolvimento de um serviço seguro que permita, aos pacientes, controlar a transferência de dados entre pacientes e profissionais.
A1020 Desenvolver um aplicativo móvel baseado no programa de apoio à autogestão para determinar sua eficácia e efeitos em pacientes idosos que realizam hemodiálise. 40 Sistema de feedback Estudo descritivo Os autores concluiram que outros dispositivos e programas devem ser elaborados para intensificar o envolvimento de profissionais da saúde na detecção dos risco em pacientes idosos que necessitam realizar hemodiálise. 
A1121 Determinar a eficácia de uma série de aplicativos móveis para melhorar a gestão do autocuidado em saúde. 282 Programa proativo de saúde móvel  Ensaio clínico randomizado  Os aplicativos podem ajudar os idosos a administrarem melhor a saúde na comunidade, além de possibilitar o autocuidado.
A1222 Fornecer dados sobre o tratamento não farmacológico da dor baseado em ferramentas da Web. 25 Pain e-Health Platform (PEP) Estudo descritivo O PEP pode otimizar o tratamento não farmacológico, principalmente, da dor lombar crônica. Ademais, oportuniza o desenvolvimento de plataformas informativas acerca de outras dores e condições crônicas.
A1323

Comparar o uso de um aplicativo móvel 3D, que permite pacientes idosos realizarem tarefas autocuidado, com um papel 2D equivalente.

34 Guide to measure-3D Estudo de método misto Este estudo revelou que idosos usando o Guide Measure-3D alcançaram melhores níveis de satisfação e confiança em comparação ao papel 2D. Dessa forma, os resultados são significativos e promissores para superar o abandono de equipamentos em papel.
A1424 Desenvolver e determinar a viabilidade clínica de um aplicativo de autocuidado para pacientes com Gota. 56 GoutCare Estudo quase- experimental O aplicativo contribuiu para melhorar o desempenho do autocuidado e a qualidade de vida dos pacientes com Gota. Ademais, o GoutCare oportunizou aos participantes o conhecimento sobre Gota, atitudes de autogestão, percepção social e autogerenciamento da doença.

 

Gerenciamento de medicamentos

Os artigos abordaram como principal funcionalidade dos aplicativos o gerenciamento de medicamentos11-14. Foram analisadas as percepções de idosos acerca da usabilidade de quatro programas de gerenciamento de fármacos, mediante lembretes com informes sobre os medicamentos e suas interações11 e idosos em uso de polifarmácia utilizaram aplicativo, a fim de otimizar a adesão à terapia medicamentosa e viabilizar a segurança desta12. Foi notabilizada a importância do uso de aplicativo como intervenção eficaz no cuidado a idosos cardiopatas13. Além disso, um dos estudos apresentou tecnologia potencializadora da segurança dos partícipes em tratamento medicamentoso14.

Gerenciamento de comorbidades

Os estudos apresentaram variados desfechos acerca do gerenciamento de comorbidades15-20,24. Um dos estudos discutiu sobre o estilo de vida dos idosos com Diabetes Mellitus (DM) e Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS)15, enquanto outro analisou a usabilidade de dois aplicativos relativos ao DM, com enfoque no monitoramento de dieta e da pressão arterial (PA)16.

Ainda sobre doenças crônicas, os artigos trataram do autogerenciamento do cuidado frente ao DM, bem como o monitoramento deste por glicosímetro conectado a um smartphone17-19.

Somou-se a isso o artigo que apresentou intervenção com pacientes em diálise, para otimizar seus conhecimentos e atitudes frente ao tratamento20. Outrossim, outro estudo tratou do manuseio e viabilidade clínica de aplicativo indicado para o autocuidado de sujeitos com Gota24.

Gerenciamento de práticas saudáveis

Acrescentaram-se a esses os estudos sobre gerenciamento de práticas saudáveis21-23. Um dos artigos expôs a relevância do uso de aplicativo móvel entre idosos que vivem em comunidade, auxiliando-os em seus aspectos físico e psicossocial, o que oportuniza o autocuidado21. examinou a efetividade de ferramenta por meio de informações acerca do tratamento não farmacológico da dor22, e exibiu programa que permitiu a realização de atividades para autoavaliação do risco de quedas, pelos beneficiários do serviço, no ambiente doméstico23.

Discussão 

Dentre os artigos analisados, quatro abordaram o autogerenciamento de medicamentos. Entende-se por essa prática o empoderamento dos sujeitos acerca da sua condição de saúde e terapêutica medicamentosa, efetivando-a mediante autonomia e independência. Um dos artigos demonstrou que mesmo sem experiência no uso de smartphones, os idosos conseguiram usar o aplicativo12, o que corrobora com uma revisão sistemática realizada em 2019, que destacou o uso de aplicativos como propiciadores da adesão aos medicamentos, sendo mais eficientes do que as estratégias convencionais definidas pelo sistema de saúde25.

Estudo americano publicado em 2020 analisou a qualidade de vida de pacientes com Insuficiência Cardíaca após o uso de aplicativos, e apontou mudanças clínicas satisfatórias na manutenção do autocuidado e adesão ao tratamento farmacológico26. Assim, faz-se necessária a elaboração e validação de aplicativos como estratégias norteadoras do autogerenciamento do cuidado, sendo essencial a avaliação por profissionais que tenham expertise na temática de tecnologias digitais.

Entende-se por comorbidade a ocorrência simultânea de dois ou mais agravos à saúde27, a exemplo das condições crônicas, as quais influenciam na funcionalidade dos idosos. Dessa forma, o autogerenciamento dessas enfermidades oportuniza o entendimento acerca das ações promotoras de saúde e a participação ativa no cuidado. Neste contexto, um dos estudos inferiu que o uso de mHealth, por sujeitos diabéticos com 60 anos ou mais, favoreceu mudanças no estilo de vida, tais como autorregulação e desenvolvimento de habilidades na resolução de problemas16, corroborando com uma revisão narrativa publicada em 2020, que apontou o estímulo de hábitos saudáveis mediante aplicativos móveis28.

Todavia, outro artigo apontou que o uso de aplicativos não interferiu de forma significativa na motivação e adesão ao comportamento das pessoas avaliadas20, o que reforça os achados do estudo29 que afirmaram dificuldades no manuseio de aplicativos de smartphones para o autocuidado, prejudicando a implementação de práticas que norteiam a melhoria da qualidade de vida.

Por ser a categoria profissional que atua no gerenciamento do cuidado, a Enfermagem se destaca como ciência essencial na promoção do conforto e das habilidades sociais envoltas nas atividades básicas de vida diária (AVDs), viabilizadas mediante aplicativos móveis, o que exige dos profissionais coragem, raciocínio clínico e paciência na elaboração de ações educativas. Além disso, os enfermeiros, principalmente, os que atuam na atenção primária à saúde são essenciais no processo de cuidado dos idosos, bem como no desenvolvimento e aplicação de tecnologias que auxiliam no seu autocuidado e consequente autogerenciamento de suas condições de saúde, o que corrobora com a autonomia e independência desse público.

Destaca-se como limitação desta revisão o nível de evidência dos estudos incluídos, pois a maioria se tratava de pesquisas descritivas qualitativas. Apontam-se como contribuições para a prática clínica e pesquisa na área de enfermagem, o fato de os resultados desta revisão destacarem o desenvolvimento e uso de aplicativos móveis por idosos para o autogerenciamento do cuidado, em especial, a autogestão de medicações e o controle da dieta. Logo, os achados deste estudo poderão sustentar a elaboração de outras ferramentas tecnológicas que auxiliem no autogerenciamento de cuidados dos idosos, bem como outros públicos. .

Conclusão

O presente estudo expôs aplicativos móveis relacionados à autogestão de fármacos no domicílio, bem como apresentou estratégias de autogerenciamento em situações clínicas como DM, Gota, tratamentos dialíticos e dor. Ademais, os aplicativos oportunizaram a autoavaliação do risco de quedas. Salienta-se a necessidade de estudos sinérgicos que abordem os aplicativos móveis como intervenção de Enfermagem junto à população idosa no contexto da assistência à saúde nos três níveis de atenção.

Conflito de interesse: Os autores declaram que não têm conflito de interesses em nenhum aspecto para a publicação do artigo.

Financiamento: não existe financiamento.

 

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