Rev Cuid 2015; 6(2): 1019-21
doi: http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.v6i2.307
EDITORIAL
PÓS-GRADUAÇÃO E A PESQUISA EM ENFERMAGEM NA AMÉRICA LATINA: AVANÇOS E DESAFIOS
POSTGRADO E INVESTIGACIÓN EN ENFERMERÍA EN AMÉRICA LATINA: AVANCES Y DESAFÍOS
POST-GRADUATION AND NURSING RESEARCH IN LATIN AMERICA: ADVANCES AND CHALLENGES
Rudval Souza da Silva1
1Enfermeiro. Doutor em Enfermagem. Professor Assistente da Universidade do Estado da Bahia (UNEB/Campus VII), Senhor do Bonfim, Bahia, Brasil. E-mail: rudvalsouza@yahoo.com.br
Histórico
Recibido: 06 de Junio de 2015
Aceptado: 16 de Junio de 2015
Cómo citar este artículo: Silva R. Pós-graduação e a pesquisa em enfermagem na América Latina: avanços e desafios. Rev Cuid. 2015; 6(2): 1019-21. http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.v6i2.307
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Na América Latina, os primeiros Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu surgiram durante a segunda metade do século XX como consequência da interação do sistema educacional nacional com os de outros países desenvolvidos. Esse intercâmbio teve início com a chegada de professores visitantes aos países latinos, tal como ocorreram às saídas de professores, com financiamentos dos programas de bolsas de estudos, para realização de pesquisas no exterior. Aliada a mobilidade docente, surgiu ainda a possibilidade de maior aprofundamento e aproximação com a literatura internacional (1).
Ao comparar com a realidade da América do Norte, o campo da Pós-Graduação em Enfermagem na América Latina ainda é jovem, com menos de meio século. Seus primeiros cursos de mestrado acadêmico surgiram na Venezuela e Colômbia em 1969, seguido do Brasil em 1972, numa busca por atender a necessidade de qualificar os enfermeiros para sua inserção no ensino, na pesquisa e na assistência (2).
O primeiro curso de doutorado na América Latina foi criado em 1981 no Brasil, com o doutorado interunidades da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) e USP de Ribeirão Preto (SP), seguido da Venezuela em 1999, México em 2003 e na Colômbia em 2004 (2), enquanto que na América do Norte (EUA) os primeiros cursos de mestrado e doutorado surgiram na década de 1930 (3).
Com os novos cursos de doutorado, a função social de formar pesquisadores, até então assumida pelos cursos de mestrado, os quais também tem o papel de qualificar para o exercício da docência, passou a ser atribuída aos cursos de doutorados, com direcionamento para a formação de pesquisadores com domínio do estado da arte na sua área de atuação; desenvolvimento de habilidades/competências para atuar e coordenar pesquisas com expertise na concepção de métodos científicos; exercício do processo educativo, colaborando na formação de novos pensadores e com capacidade para construção de sólidos projetos de carreira científica.
No Brasil, os cursos de doutorado em enfermagem têm aumentado consideravelmente, o que avalio como um avanço para a Pós-Graduação. Segundo dados estatísticos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), a agência de fomento à pesquisa brasileira que atua na expansão e consolidação da Pós-Graduação Stricto Sensu, treze anos após a criação do primeiro curso de doutorado, já existiam dez programas de doutorado no Brasil, sendo um apenas de doutorado e nove integrando mestrado e doutorado. Passado dez anos, esse número triplicou, em 2014 o número de programas com doutorado em enfermagem já chegam a 33 como pode ser observado na Figura 1 a seguir (4).
Aliado ao avanço no crescimento dos cursos de mestrado e doutorado na Área de Enfermagem no Brasil observa-se também que o país além de ter sido o primeiro a criar um curso de doutorado em enfermagem, do mesmo modo, foi prógono na instituição da pesquisa de enfermagem, não apenas por ter iniciado a pós-graduação, ademais pelo desenvolvimento e crescimento da produção científica (5). Isso me permite inferir que há de fato uma estreita relação entre os centros formadores de pesquisadores e o desenvolvimento das pesquisas.
O pioneirismo do Brasil na instituição da pesquisa na Área de Enfermagem na América Latina, não se deu somente com o início da Pós-Graduação em Enfermagem, mas também com o crescimento da produção científica. Nesse sentido, compreendo que existem relações diretas entre a pesquisa e o reconhecimento da organização científica da enfermagem estreitamente vinculada às instituições universitárias e os centros de formação de pesquisadores.
No início da segunda década do século XXI, foi possível vislumbrar novo cenário na Área de Enfermagem no Brasil, chegando a 11a posição no ranking de produção científica mundial e em 1ª lugar no ranking dos países latino-americanos, seguido do Chile, de acordo com os dados do Scopus® database (6). Esse avanço tem possibilitado melhor conceituação dos Programas de Pós-Graduação em Enfermagem no Brasil, despontando com a conquista de nota 7 em dois programas de doutorado da mesma Universidade que deu início ao primeiro curso de doutorado no Brasil, a Universidade de São Paulo (USP). Tal avanço é reflexo do upgrade das publicações, não apenas em termos numéricos, mas, sobretudo em termos de qualidade, bem como da inserção e visibilidade internacional.
Ampliando esse olhar para os demais países da América Latina, é evidente o aumento expressivo das publicações e do número de periódicos indexados na Scopus® database. Ao consultar o SCImago Journal & Country Rank, identifiquei que no ano de 2004 havia apenas 04 periódicos indexados: 02 brasileiros (Revista Latino-Americana de Enfermagem e Revista da Escola de Enfermagem da USP); 01 chileno (Ciencia y Enfermeria) e 01 cubano (Revista Cubana de Enfermeria). Passado quase uma década, vale ressaltar que o SCImago Journal & Country Rank contempla dados até 2013, é possível observar que o número de revistas avançou para mais que o dobro, alcançando o dígito de 10 periódicos indexados. Além dos já mencionados, foram indexados mais 04 novos periódicos brasileiros (Acta Paulista de Enfermagem, Texto e Contexto Enfermagem, Online Brazilian Journal of Nursing e Revista Enfermagem), 01 colombiano (Aquichan) e 01 mexicano (Revista Mexicana de Enfermería Cardiológica) (6-7).
Esse crescimento e visibilidade da pesquisa e consequentemente da produção científica no cenário nacional e internacional é resultado do crescimento da Pós-Graduação em Enfermagem na América Latina nos últimos anos, especialmente no cenário brasileiro. Ainda assim, são grandes os desafios para continuar avançando na formação de massa crítica e na produção do conhecimento e de intervenções crítico-criativas que possibilitem promover inovações na dinâmica dos serviços, em busca por uma transformação social e solidária, considerando-se que a educação por si só não transforma o mundo, todavia, a educação modifica as pessoas e estas sim, transformam a sociedade (8).
Além da ampliação do número de cursos de Pós-Graduação em Enfermagem, observo que ainda existem desafios, os quais passam pela consolidação na formação de recursos humanos qualificados, tanto no que tange ao rigor metodológico para a realização e coordenação de projetos de pesquisas, quando na produção intelectual para a disseminação do conhecimento que possa contribuir para transformar a sociedade.
Uma possibilidade nesse processo de consolidação na formação de pesquisadores, penso que passa pelo fortalecimento dos grupos de pesquisa e sua inserção no processo de internacionalização da Pós-Graduação em Enfermagem, com o desenvolvimento de projetos de cooperação internacional, favorecendo a transferência de tecnologias, a mobilidade de docentes e discentes além da divulgação do conhecimento e a viabilidade da integração e comparação dos estudos.
Mais um desafio que posso citar, centra-se na criação de núcleos de excelência em ensino e pesquisa de padrão internacional, consolidando as redes de apoio integradas a organizações internacionais, tais como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e distintas Universidades estrangeiras de excelentes conceitos, como tem acontecido com o Programa Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da USP Ribeirão Preto (SP) que é núcleo de excelência reconhecido no Brasil e no exterior e atua como Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em Enfermagem.
Vencer o desafio das redes de apoio e da institucionalização dos centros colaboradores trará com certeza, o fortalecimento dos mecanismos que favoreçam o intercâmbio e a difusão da produção científica a nível nacional e internacional. Uma atualidade complexa, mas necessária para a promoção de alianças e agendas estratégicas conjuntas para o desenvolvimento da ciência e tecnologia em Enfermagem na América Latina.
Penso que uma alternativa para a promoção dos intercâmbios se ancora na realização de fóruns nacionais e internacionais de pesquisa em enfermagem que permitam a troca de experiências e o enriquecimento da produção gerada pela profissão. De todos os países das Américas, os Estados Unidos é o que contam com maior número de centros estruturados para essa finalidade, contudo os colóquios sobre investigação em enfermagem na América Latina têm se constituído em um novo espaço institucional da pesquisa em enfermagem.
Os Colóquios Panamericanos de Investigación en Enfermería, têm sido promovidos pelos Centros Colaboradores da OMS nos países da América Latina a cada dois anos, sendo que sua XIV edição aconteceu em 2014 na cidade de Cartagena de Índias na Colômbia (5).
Por último, vale apontar o desafio da interdisciplinaridade, na busca por diálogos e conexões com outras áreas, com vista à (re) estruturação de novos conhecimentos. Somente com uma visão mais ampla, almejando a integralidade das múltiplas áreas do conhecimento, será possível atingir as reais necessidades da sociedade e proporcionar melhor direcionamento para o uso do conhecimento produzido nos meios acadêmicos. Isto posto, posso afirmar que a assimilação da interdisciplinaridade no contexto da Enfermagem vem a contribuir com o reconhecimento dos saberes intrínsecos a profissão, atribuindo-lhe as devidas competências e responsabilidades que podem ser compartilhadas com os demais profissionais de saúde e áreas afins.
REFERÊNCIAS