Rev Cuid 2018; 9(1): 1998-2006
http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.v9i1.474
ARTÍCULO ORIGINAL
Validação de conteúdo do perfil de competências de enfermeiros gestores de ensino superior
Validation of competency profile content of nurse managers of higher education
Validación de contenido del perfil de competencias de enfermeros gestores de educación superior
Valnice de Oliveira Nogueira1, Isabel Cristina Kowal Olm Cunha2
1Doutora em Ciências. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração em Saúde e Gerenciamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo. Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Nove de Julho. São Paulo, Brasil. Autor de Correspondência: E-mail: vallnog@yahoo.com.br
2Doutora em Saúde Pública. Professora Associada da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo. São Paulo, Brasil.
Histórico
Recibido: 24 de septiembre de 2017
Aceptado: 04 de diciembre de 2017
Como citar este artigo: Nogueira VO, Cunha ICKO. Validação de conteúdo do perfil de competências de enfermeiros gestores de ensino superior. Rev Cuid. 2018; 9(1): 1998-2006. http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.v9i1.474
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Introdução: A gestão dos cursos de graduação em enfermagem é dotada de inúmeras tarefas e desafios para aqueles que optam desempenhar esta função. Um Perfil de Competências poderia contribuir a práxis dos profissionais. O objetivo foi descrever os critérios de construção e validação de um Perfil de Competências para Enfermeiros Gestores de Ensino Superior em Enfermagem. Materiais e Métodos: Estudo de validação de conteúdo realizado com 21 juízes. O Perfil de Competências continha 62 itens distribuídos nos domínios educacional, administrativo e individual com 20, 22 e 20 afirmativas respectivamente. Resultados: A consistência interna estimada pelo coeficiente alfa de Cronbach variou entre 0,79 e 0,88 e o Índice de Validade de Conteúdo alcançou valores entre 0,88 e 0,95. Discussão: O domínio educacional foi o que mais apresentou sugestões e ponderações e o domínio administrativo obteve maiores pontuações nas análises de concordância. Conclusões: O Perfil de Competências atendeu às exigências mínimas estabelecidas e poderá ser utilizado na população a que se destina.
Palavras chave: Enfermagem; Estudos de Validação; Gerenciamento de Prática Profissional; Competência Profissional; Pesquisa Metodológica em Enfermagem.
Abstract
Introduction: Management of undergraduate nursing courses encounters numerous tasks and challenges for those choosing to perform this task. A Competency Profile could contribute to the praxis of professionals. The aim was to describe the criteria for the construction and validation of a Competency Profile for Higher Education Nursing Managers. Materials and Methods: Content validation study conducted with 21 judges. The Competency Profile contained 62 items distributed in the educational, administrative, and individual domains with 20, 22 and 20 affirmative, respectively. Results: The internal consistency estimated via Cronbach's alpha coefficient ranged from 0.79 to 0.88 and the Content Validity Index reached values between 0.88 and 0.95. Discussion: The educational domain presented the most suggestions and considerations and the administrative domain obtained higher scores in the agreement analysis. Conclusions: The Competency Profile met the minimum requirements established and could be used in the target population.
Key words: Nursing;Validation Studies; Pratice Management; Professional Competence; Nursing Methodology Research.
Introducción: La gestión de los programas de pregrado en enfermería está dotada de innumerables tareas y desafíos para aquellos que optan por desempeñar esta función. Un Perfil de Competencias podría contribuir a la praxis de los profesionales. El objetivo fue describir los criterios de construcción y validación de un Perfil de Competencias para Enfermeros Gestores de Educación Superior en Enfermería. Materiales y Métodos: Estudio de validación de contenido realizado con 21 jueces. El Perfil de Competencias contenía 62 ítems distribuidos en los ámbitos educativo, administrativo e individual con 20, 22 y 20 afirmaciones respectivamente. Resultados: La consistencia interna estimada por el coeficiente alfa de Cronbach varió entre 0.79 y 0.88 y el Índice de Validez de Contenido alcanzó valores entre 0.88 y 0.95. Discusión: El dominio educativo fue el que más presentó sugerencias y ponderaciones y el dominio administrativo obtuvo mayores puntuaciones en los análisis de concordancia. Conclusiones: El Perfil de Competencias atendió a las exigencias mínimas establecidas y podrá ser utilizado en la población a la que se destina.
Palabras clave: Enfermería; Estudios de Validación; Gestión de la Práctica Profesional; Competencia Profesional; Investigación Metodológica en Enfermería.
A gestão dos cursos de graduação em enfermagem é dotada de inúmeras tarefas e desafios para aqueles que optam desempenhar esta função. No seu cotidiano cumpre atividades burocráticas e administrativas, reuniões e negociações com o corpo docente, discente e diretoria, participação nas ações institucionais, a elaboração e revisão do Projeto Pedagógico do Curso (PPC), criação de projetos coletivos e integrados na comunidade e estabelecimentos de parcerias.
Nas Instituições de Ensino Superior (IES) públicas a ocupação do cargo se dá por eleições de colegiado e nas privadas por processo seletivo e/ou indicações do alto nível hierárquico. As tarefas desempenhadas pelo gestor de cursos superiores requerem desenvolvimento ou aperfeiçoamento de competências que na maioria das vezes não são claramente definidas pela comunidade científica ou listadas por meio de instrumento de avaliação das instituições de ensino contratantes.
Em contrapartida exigências de formação profissional como titulação acadêmica e regime de contratação são feitas pelos órgãos de fomento à educação na vigência do processo de autorização, reconhecimento e renovação do credenciamento de um curso superior1, mas na maioria das vezes não se relaciona diretamente com competências.
Discussões acerca do papel do gestor de ensino são comumente encontradas na área da educação básica nos periódicos de circulação renomada, porém no ensino superior de modo geral e na enfermagem, estas são consideravelmente reservadas. Assim, investigações mais sólidas e acirradas na área de enfermagem devem ser iniciadas e divulgadas, uma vez que o número de escolas aumentou no país de forma contundente, tendo passado de 207 para 828 em 10 anos2.
“A competência é associada à noção de ser capaz de fazer algo numa situação, sendo que ser competente envolve aprendizagem, traduzido por um saber aprender, envolvendo sucessivas construções, desconstruções e reconstruções de saberes não se tratando de um dom herdado pelas pessoas3”. Portanto, a competência está diretamente relacionada a capacidade de resolver problemas com eficácia e eficiência e efetividade.
Sendo assim, considera-se relevante a existência de um perfil de competência para quaisquer categorias e aos enfermeiros não é diferente. Perfis de Competências (PC) são elaborados pela academia ou pelas organizações na tentativa de nortear as práticas profissionais. Esse movimento de conceituação e o uso de perfis tem se tornado cada vez mais comum e objetiva qualificação profissional e do serviço que se oferta a população.
Sentindo a necessidade em olhar esse contexto e de debruçar no binômio competência-enfermeiro gestor de cursos de graduação em enfermagem, esse tema foi objeto de uma pesquisa de pós-graduação strictu sensu4. Neste artigo a terminologia escolhida foi gestor de ensino superior, mas ressalta-se que os termos diretor de curso, coordenador de cursos, coordenador pedagógico são utilizados nas Instituições de Ensino Superior públicas e privadas.
Pelo uso dos perfis de competências e por conseguintes a definição e estruturação do seu fazer e saber, infere-se que a visibilidade e o reconhecimento do enfermeiro estão em franca gestação levando em conta as transformações do mundo e das organizações. Nessa mesma linha de raciocínio, reconhece-se que a criação de um PC para Enfermeiros Gestores de Ensino Superior em Enfermagem e a sua validação por especialistas, possa auxiliar as IES em seus processos de trabalho uma vez que não são definidos de forma explícita.
O presente estudo teve como objetivo descrever os critérios de construção e validação de um PC para Enfermeiros Gestores de Ensino Superior em Enfermagem.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram elencadas algumas perguntas para o delineamento desta pesquisa: Quais seriam as competências a fazer parte de um perfil destinado aos Enfermeiros Gestores de Ensino Superior em Enfermagem? Quais domínios de competências seriam necessários para este cargo? Que critérios de validação deve ser submetido o PC ora criado para garantir a sua qualidade?
Assim sendo, o artigo foi classificado como estudo de validação de conteúdo que compreende a avaliação do universo teórico e das diferentes dimensões do conceito a ser observado e medido e que passa pela análise de especialistas. Esse processo é composto pela análise da construção do documento e a avaliação quanti e qualitativa5,6. O período compreendido para sua realização se deu em duas fases: a construção do material e a realização do pré-teste em 2013 e a validação com juízes entre os meses de abril e julho de 2014.
Na primeira fase, o PC foi submetido a pré-teste para a adequação e, que se seguisse a etapa subsequente, a validação. Os integrantes dessa fase, ex-coordenadores de curso, receberam por correio eletrônico o arquivo para avaliação. Optou-se pela escala Likert para a atribuição de valor para os itens de competências do instrumento. Para esse estudo definiu-se pontuação máxima de 5 e mínima de 1. Os participantes puderam tecer comentários e/ ou sugerir mudanças na coluna intitulada como observações para cada afirmativa do PC, o que possibilitou uma análise qualitativa do material.
Após realização do pré-teste e ajustes o instrumento de coleta de dados foi enviado aos experts e continha 53 itens divididos em duas partes: a primeira referia-se aos dados de caracterização dos juízes e a segunda o PC propriamente dito. Seguindo a mesma metodologia do pré-teste, havia uma coluna intitulada como "observações” para que os juízes realizassem apontamentos sobre as afirmativas do PC. Detalhamentos acerca da construção, realização do pré-teste e a validação do PC estão apontados nos resultados.
O grupo de especialistas que participou do processo de validação do instrumento construído foi composto por enfermeiros ex-gestores de cursos de graduação, enfermeiros consultores e ou profissionais expertos na área do ensino ou de competências. O critério de seleção se deu pela análise da trajetória profissional nas respectivas áreas pela Plataforma Lattes e pela interpretação das autoras no que se refere à pertinência dos profissionais com o objetivo do estudo.
Osparticipantes do processo de validação do PCreceberam o convite por meio de correio eletrônico e analisaram o PC pelo aplicativo Google docs®. O prazo estabelecido para a devolução do material preenchido foi de 10 dias. Em alguns casos foi necessário reenviar o material aos juízes mais vezes o que resultou na demora na conclusão da validação para que se atingisse o número mínimo de participantes estabelecido pela literatura para o reconhecimento desse processo. A dificuldade de obtenção das respostas dos instrumentos de coleta de dados enviados é uma situação considerada comum e foi relatada como uma importante limitação ao desenvolvimento de uma pesquisa7.
A técnica utilizada para a análise do PC foi a de Delphi, que se refere ao julgamento de profissionais experientes acerca de um assunto especifico a partir de um consenso de opiniões de forma sistematizada8. Também foi utilizada a escala de Likert e havia uma lacuna para descrever os comentários que os participantes julgassem relevantes.
Os testes estatísticos utilizados para a avaliação do instrumento foram: a) o alfa de Cronbach que mede a consistência interna de cada domínio. Valores superiores a 0,7 podem ser considerados indicativos de consistência interna; b) o Índice de Fidedignidade ou concordância (IF) e; c) o Índice de Validade de Conteúdo (IVC). Estes últimos quantificam o grau de concordância entre os especialistas durante o processo da validade de conteúdo de um instrumento, sendo muito empregado na área da saúde. O IVC é mede a proporção ou percentual de juízes que estão em concordância sobre o instrumento e de seus itens e o cálculo é feito pela soma de concordância dos itens que foram marcados por "3" ou "4" pelos especialistas. As taxas mínimas aceitáveis de concordância dos testes aplicados são de 80% e 0.8 respectivamente9. Foi definido para esse estudo que o IVC seria calculado pela média de proporções dos itens considerados relevantes pelos juízes.
A interpretação numérica das avaliações dos juízes foi tabulada através do programa Microsoft Excel® e o tratamento dos dados foi realizado por meio da estatística descritiva a partir do software SPSS 20.0.
Atendendo as exigências éticas de pesquisa em saúde envolvendo seres humanos vigente na legislação brasileira10, o projeto de pesquisa foi analisado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da instituição onde se desenvolveu esse estudo e obteve aprovação mediante o parecer N° 1080/2011. Antes de iniciar a avaliação do material, os autores concordaram em participar e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que estava disponível no mesmo ambiente virtual onde PC seria validado pelos juízes.
RESULTADOS
Fase 1: A construção do PC
O PC foi construído e fundamentado com base na literatura da enfermagem, educação e da administração, e foram selecionadas 28 referencias após o levantamento bibliográfico. Na sequência, as etapas de leitura e a classificação em grupos temáticos foram executadas e adotou-se o método de diagrama da árvore para a concepção e organização do material. Este se baseia na decomposição do tema em estudo em seus vários componentes num desenho que estabelece de forma hierárquica, os vários desdobramentos ou variáveis a serem considerados11.
Os domínios foram nomeados após diversas leituras sobre competências e alicerçados na experiência profissional. Desta maneira foram estabelecidos 3 domínios de competências: Educacionais, Administrativas e Individuais.
O Domínio de Competências Educacionais está relacionado aos aspectos estruturais do curso inerentes ao cotidiano do enfermeiro gestor. O Domínio de Competências Administrativas está relacionado ao gerenciar os serviços que nesse contexto se aplica ao ensino superior e que é similar a qualquer processo de gestão dentro e fora do ambiente de educação. O Domínio de Competências Individuais está relacionado com o subjetivo do enfermeiro coordenador e que repercute na condução do curso mediante seu entendimento de vida, trabalho e de experiências afins. Os domínios criados foram enquadrados partindo dos conteúdos concretos do trabalho em cinco competências na perspectiva teórico-filosófico12, como: competência de processo, competência técnico-performativa, competência sobre a organização, competência de serviço e competência social. Referem-se ao processo de trabalho, a gestão do trabalho e a sua (re) programação, a avaliação do trabalho e aos aspectos comportamentais respectivamente e, estão diretamente interligadas a organização do diagrama da árvore corroborando a esquematização.
A primeira versão contava com 42 itens distribuídos nos domínios que foram criados e nomeados como educacional, administrativo e individual e que contabilizavam 15, 13 e 14 afirmativas sobre o PC.
O material foi submetido ao pré-teste com enfermeiros que haviam ocupado o cargo de coordenador de curso de graduação. No que se refere à caracterização destes respondentes, 100% (n=11) eram do sexo feminino, a média de idade, tempo de formação acadêmica e de gestão em ensino de graduação foram 43,1, 25,4 e 5,1 anos.
Da população, 50% eram mestres e 80% eram gestoras de ensino privado. Após a avaliação dos ex-gestores de ensino superior, um item no domínio administrativo e um no educacional foram incluídos e a segunda versão do PC possuía 44 afirmativas.
O Exame de Qualificação de doutorado ocorreu na mesma época que a aplicação do pré-teste e por sugestão da banca examinadora, para a terceira versão, essa população foi novamente acionada a fim de que enumerassem as atividades de coordenação sob o ponto de vista dos três domínios de competência para que fossem analisadas e, se houvesse pertinência, adaptadas ao PC. A banca pronunciou algumas competências a serem agregadas ao material. Ao término desse processo foram incorporadas 19 afirmativas e a versão para validação pelos juízes na próxima fase desta pesquisa continha 63 itens, sendo 20 no domínio de competência educacional, 22 administrativos e 21 no individual.
A Tabela 1, apresenta com clareza as versões de criação do perfil de competências antes do processo de validação.
Tabela 1. Versões de criação do Perfil de Competências, São Paulo- Brasil
Fase 2: Validação do PC
Os juízes
A validação do material contou com a participação de 21 juízes de uma seleção de 30. Os participantes do estudo tinham as seguintes características: 100% eram do sexo feminino, 95% enfermeiros, a média de idade, tempo de formação acadêmica e de gestão em ensino de graduação foram 54,4, 32,1 e 12,4 anos respectivamente, o que configurou a amostra com a faixa etária e o tempo de experiência maior que os participantes do pré-teste. Quanto à ocupação, 71% eram docentes com 01 vínculo empregatício e 47,6% eram gestoras de ensino público. Da titulação acadêmica, 95% eram doutoras e 23% pós-doutoras.
Avalidação
O instrumento teve somente uma rodada de três estabelecidas pela técnica de Delphi. Ao analisar os resultados verificou-se que a maioria das respostas do material tinha pontuações 4 e 5, o que correspondia a importante e muito importante. A somatória dos referidos escores foram iguais ou superiores a 75% de concordância o que inviabilizou a segunda rodada da Delphi. Inexistiu escore 1 na escala Likert que caracterizava não importante. A avaliação pouco importante com classificação 2 na escala teve 05 sinalizações em todo o instrumento. A Tabela 2, apresenta os escores dos testes estatísticos empregados:
Tabela 2. Análise de concordância dos juízes sobre os domínios de competência, São Paulo- Brasil
AC- Alfa de Cronbach; IVC- Índice de Validade de Conteúdo; IF- Índice de Fidedignidade.
Ao que se refere interpretar a avaliação dos juízes, observou-se que 50% teceram comentários sobre as afirmativas em cada domínio. A Tabela 3, mostra a avaliação dos especialistas e as decisões tomadas pelos autores após a validade de conteúdo.
Tabela 3. Avaliação dos especialistas e reformulações do PC por validade de conteúdo, São Paulo- Brasil
DISCUSSÃO
Ao que se refere ao número de rodadas na aplicação da Técnica Delphi, o PC teve uma de 3 possíveis. Os resultados evidenciaram que o domínio educacionalfoi o que mais apresentou sugestões e ponderações. Foi também o que mais teve escore da escala de Likert 2 nomeado como pouco importante com 03 questões. Os escores dos testes estatísticos realizados foram os menores comparados aos outros domínios. Houve 02 questões deste domínio que obtiveram 80% de concordância e 04 que obtiveram pontuação máxima de concordância.
Acredita-se que esses valores sejam em razão do enfermeiro gestor ser obrigatoriamente levado a se apropriar dos conhecimentos pedagógicos para que possa conduzir às ações do curso relativas ao cumprimento da legislação em educação.
A coordenação de cursos de graduação vivencia dificuldades da mesma envergadura do ensino médio. Um estudo discute que as alterações na natureza do trabalho no ensino médio passaram por modificações, principalmente sob o ponto de vista operacional, tais como medidas institucionais, atividades empresariais do trabalho docente, reforçando a complexidade do fazer do gestor13. Tal fato provoca dificuldades semelhantes em ambos os contextos.
A avaliação qualitativa representada pela validade de conteúdo do domínio educacional foi o que mais apresentou inferência dos entrevistadores. Dos 21 juízes, 47,6% teceram comentários acerca do material. As afirmativas receberam contribuições no mínimo de 5 e máximo de 20 por juiz. Todos os pareceres realizados foram pertinentes e em sua maioria foram incorporados ao instrumento. As sugestões e comentários feitos pelos juízes agregaram às reflexões das autoras a suposição de que existe maior dificuldade no domínio de competências educacionais.
Tomar consciência desta dificuldade pode deflagrar discussões em espaços maiores que não sejam apenas o institucional e que envolva a comunidade acadêmica e as entidades governamentais responsáveis pela elaboração de políticas públicas. Hoje não há formação específica para enfermeiro gestor de curso. Apenas constatam-se modalidades de capacitação de forma complementar.
O domínio administrativo foi o que teve maiores pontuações nas análises de concordância realizadas no PC, perfazendo 95% no Índice de Fidedignidade e 0,88 no Alfa de Cronbach. Houve 01 questão do total de 22 que obteve menor concordância com 76,14% e 8 questões que apresentaram 95,23% de fidedignidade.
Dos juízes, 19 % (n=4) manifestaram ideias e ressalvas sobre as afirmativas nesse domínio que teve o menor número de considerações. As correções realizadas convergiam essencialmente no sentido de complementação textual e não de reorganização gramatical.
As funções administrativas e outros tantos assuntos da administração fazem parte da matriz curricular desde a formação acadêmica e são exigidas em um percentual determinado pela legislação vigente14, e na distribuição da carga horária não é diferente. Daí entende-se que pela execução de ações gerenciais, independente da área de atuação profissional, haja um melhor entendimento das competências administrativas para os juízes e supostamente para os gestores de ensino superior.
O domínio individual foi o segundo domínio que mais teve modificações e considerações inseridas. Houve 02 questões do total de 21 que obtiveram 71,19% de fidedignidade e correspondeu o menor escore de todo o instrumento. As questões retratavam a necessidade de o coordenador ser inovador e conduzir as ações diárias com base na humildade, espiritualidade e respeito e, por este motivo, optou-se pela permanência dessas no material. Foi excluída 01 afirmativas por duplicidade de ideias.
Dessa maneira, para prosseguir a etapa 3 que seria a aplicação do perfil de competências aos coordenadores de cursos de graduação em enfermagem após o processo de validação, a versão final continha 62 itens.
Discutir questões relativas ao comportamento humano e as suas relações interpessoais provocam reflexões e repulsas por ser no ambiente de trabalho. É o universo onde o homem passa a maior parte do seu tempo e é objeto de competição, formação de alianças ou contrariamente suscita o isolamento. A gestão de pessoas tem se evidenciado nos últimos anos levando em conta que o capital humano é o mais importante dentro das organizações, além de ser compreendida como tecnologia leve de trabalho na saúde.
A gestão de pessoas por competências é uma metodologia que interfere positivamente no desempenho organizacional e que agrega valor para o empregador, o colaborador e aqueles que consomem os serviços prestados por estes15,16. Outro tópico abordado na gestão de competências é o uso da empregabilidade na perspectiva mais ampla, quer dizer, vislumbrando as competências que o profissional possa desenvolver seja nos cenários de atuação na gestão, assistência hospitalar e na atenção básica17-20.
Uma vez que o enfermeiro gestor de ensino superior reconheça as suas competências e a importância em seu processo de trabalho, indubitavelmente incorporará na (re) construção de Projeto Politico de Curso e nas disciplinas que compõem a matriz curricular. Assim sendo, a formação dos alunos de graduação em enfermagem baseada em competências se materializa e reforça a reflexão sobre seu desempenho e a identidade profissional. Nesse sentido há uma importância em reforçar a formação de futuros profissionais alicerçados nas competências sejam básicas, associadas, clinicas ou gerenciais21,22.
As limitações desse estudo referiram-se sob 02 aspectos: a submissão do PC aos juízes e a ausência de respostas positivas para participação no processo de validação e ao tempo dispendido para coleta de dados, recebimento das respostas e interpretação estatística. Maior que o previsto no cronograma.
Destaca-se que, apesar de o instrumento final ter sido concebido para atender os enfermeiros gestores cursos de graduação e de ser avaliado por juízes e ter sido submetido ao pré-teste por ex-gestores de cursos de graduação entende-se que pode ser adaptado aos profissionais que atuam nas variadas áreas do conhecimento que gerenciam o ensino superior.
CONCLUSÕES
Perfil de Competência proposto nesse estudo atendeu às exigências mínimas estabelecidas pela validade de conteúdo e pelos testes realizados. É composto por 62 itens distribuídos nos domínios de competências denominadas educacionais, administrativas e individuais com 20, 22 e 20 afirmativas respectivamente. Obteve valores na consistência interna estimada pelo Alfa de Cronbach entre 0,79 e 0,88 e o Índice de Validade de Conteúdo alcançou valores entre 0,88 à 0,95. Esse material poderá ser utilizado e aproveitado na população a que se destina, bem como aos empregadores na perspectiva de ser um instrumento de avaliação de desempenho e de aperfeiçoamento profissional.
Conflito de interesses: Os autores declaram que não houve conflitos de interesse.
REFERÊNCIAS