VOL. 10 Nº 2 MAYO – AGOSTO 2019 BUCARAMANGA, COLOMBIA
E-ISSN: 2346-3414
ARTÍCULO DE INVESTIGACIÓN
Índice de massa corporal associado às caractéristicas das puérperas e dos neonatos
Body mass index associated with characteristics of postpartum patients and newborns
Índice de masa corporal asociado a las características de las puérperas y de los neonatos
Beatriz Dornelas Tresso1, Beatriz Barco Tavares2
1Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP). São José do Rio Preto, Brasil. https://orcid.org/0000-0003-4643-8959
2Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP); São José do Rio Preto, Brasil. Autor para Correspondência. E-mail: bbarco@famerp.brhttps://orcid.org/0000-0001-9821-0417
Histórico
Recibido: 29 de noviembre de 2018
Aceptado: 27 de abril de 2019
Como citar este artigo: Tresso BD, Tavares BB. Índice de massa corporal associado às caractéristicas das puérperas e dos neonatos. Rev Cuid. 2019; 10(2): e678. http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.v10i2.678
©2019 Universidad de Santander. Este es un artículo de acceso abierto, distribuido bajo los términos de la licencia Creative Commons Attribution (CC BY-NC 4.0), que permite el uso ilimitado, distribución y reproducción en cualquier medio, siempre que el autor original y la fuente sean debidamente citados.
Resumo
Introdução: O índice de massa corporal (IMC) pré-gestacional inadequado acarreta riscos maternos/fetais. Objetivos: Identificar o IMC pré-gestacional e associá-lo com os dados sociodemográficos e obstétricos das puérperas; e identificar o IMC pré-gestacional e o ganho de peso na gravidez relacionados às características dos neonatos. Materiais e Métodos: Estudo quantitativo, descritivo, desenvolvido em hospital referência, com 187 binômios. Dados foram coletados da carteirinha do pré-natal e da Declaração de Nascido Vivo. Devido à ausência de distribuição gaussiana, as variáveis contínuas foram comparadas, utilizando-se testes não paramétricos (Mann-Whitney ou Kruskal-Wallis). As amostras pareadas foram comparadas utilizando-se o teste de Wilcoxon pareado. Para comparação das variáveis categóricas, utilizou-se o teste exato de Fisher ou o teste qui-quadrado de Pearson. Resultados: O IMC pré-gestacional variou de 16 a 53kg/m², média 25,0 ±5,9kg/m²; 41,2% com sobrepeso e mulheres obesas; a média do ganho de peso gestacional foi 11Kg ±30Kg; a média da idade de 26 anos. Houve aumento progressivo do peso de acordo com o aumento da idade (P=0,009); mulheres obesas foram mais propensas a serem internadas por Síndrome Hipertensiva Gestacional (P=0,003) e por hipertensão arterial crônica (P=0,026); entre as com IMC elevado 24,0% eram primíparas e 23,5% multípara; a média do peso dos neonatos foi 3146,8g ±559,7g. O peso dos neonatos das obesas foi superior (P=0,034). Houve correlação positiva entre o IMC materno pré-gestacional e o peso do RN ao nascimento (rho–0,219; P=0,003). Discussão: Os resultados demostraram aumento de peso nas gestantes corroborando com outras pesquisas da literatura. Conclusões: A avaliação do estado nutricional deve acontecer no planejamento da gestação para evitar futuras complicações.
Palavras chave: Índice de Massa Corporal; Obesidade; Recém-Nascido; Gestantes; Enfermagem Obstétrica.
Abstract
Introduction: An inadequate pregestational Body Mass Index (BMI) leads to maternal/fetal risks. Objectives: To identify the pregestational BMI to link it to the sociodemographic and obstetrical data of postpartum patients as well as to identify how the pregestational BMI and weight gain during pregnancy can be related to the characteristics of newborns. Materials and Methods: A quantitative, descriptive study was conducted in a referral hospital for 187 pairs. The data were collected from the maternity notes and the Certificates of Live Birth. Due to the absence of Gaussian distribution, continuous variables were compared using non-parametric tests (Mann-Whitney or Kruskal-Wallis). Paired samples were compared using the Wilcoxon test for paired data. Fisher’s exact test or Pearson’s chi-square test were used for comparing categorical variables. Results: Pregestational BMI ranged from 16 to 53kg/m², mean 25.0 ±5.9kg/m²; 41.2% overweight and obese women; the average of pregestational weight gain was 11Kg ±30Kg; mean age was 26 years. A progressive weight gain was observed in relation to the increase in age (P=0.009); obese women were more likely to be hospitalized for Gestational Hypertensive Syndrome (P=0.003) and Chronic Hypertension (P=0.026); among women with a high BMI, 24.0% were primiparous while 23.5% were multiparous; the average weight of newborns was 3146.8g ±559.7g. Newborn weight of obese women was higher (P=0.0034). A positive correlation was observed between maternal pregestational BMI and the newborn weight at birth (rho–0.219; P=0.003). Discussion and Conclusions: The assessment of the nutritional status should be made during the planning stage of gestation in order to prevent future complications.
Key words: Body Mass Index; Obesity; Infant, Newborn; Pregnant Women; Obstetric Nursing.
Resumen
Introducción: Un Índice de Masa Corporal (IMC) pregestacional inadecuado conlleva riesgos maternos/fetales. Objetivos: Identificar el IMC pregestacional y vincularlo a los datos sociodemográficos y obstétricos de las puérperas; e identificar el IMC pregestacional y el aumento de peso durante el embarazo relacionados con las características de los neonatos. Materiales y Métodos: Estudio cuantitativo, descriptivo, desarrollado en un hospital de referencia, con 187 binomios. Los datos fueron recolectados a partir de la libreta prenatal y de la Declaración de Nacido Vivo. Debido a la ausencia de distribución gaussiana, se compararon las variables continuas, utilizando pruebas no paramétricas (Mann-Whitney o Kruskal-Wallis). Las muestras pareadas fueron comparadas utilizando la prueba de Wilcoxon para datos pareados. Para comparar las variables categóricas, se utilizó la prueba exacta de Fisher o la prueba chi-cuadrado de Pearson. Resultados: El IMC pre-gestacional varió de 16 a 53kg/m², promedio 25,0 ±5,9kg/m²; 41,2% con sobrepeso y mujeres obesas; el promedio de aumento del peso gestacional fue de 11Kg ±30Kg; el promedio de edad fue de 26 años. Se observó un aumento progresivo del peso de acuerdo con el aumento de la edad (P=0,009); las mujeres obesas más propensas a ser hospitalizadas por Síndrome Hiperintensiva Gestacional (P=0,003) y por hipertensión arterial crónica (P=0,026); entre las mujeres con IMC elevado 24,0% eran primíparas y 23,5% multíparas; el promedio de peso de los neonatos fue de 3146,8g ±559,7g. El peso de los neonatos de las obesas fue superior (P=0,034). Se observó una correlación positiva entre el IMC materno pre-gestacional y el peso del RN al nacer (rho–0,219; P=0,003). Discusión: Los resultados demostraron un aumento de peso en las madres gestantes, lo que corrobora las investigaciones de la literatura. Conclusiones: La evaluación del estado nutricional se debe realizar en la fase de planeación de la gestación con el fin de evitar complicaciones futuras.
Palabras clave: Índice de Masa Corporal; Obesidad; Recién Nacido; Mujeres Embarazadas; Enfermería Obstétrica.
INTRODUÇÃO
Na assistência do pré-natal, acontece à avaliação do estado nutricional que é calculada pelo Peso (kg)/Altura(m)², identificando-se o índice de massa corporal (IMC), a classificação vai de baixo peso a obesidade1-4. Em 2015, na cidade de São Paulo, Brasil, constatou que 41,5% das mulheres com mais de 18 anos possuíam o IMC igual ou maior que 25, ou seja, com sobrepeso ou obesidade1. As mulheres com sobrepeso e obesidade têm a predisposição no ciclo gravídico puerperal de adquirir maior ganho de peso e mantê-lo no pós-parto3,5-6.
O IMC de sobrepeso ou obeso pré-gestacional e gestacional acarreta riscos maternos como: as síndromes hipertensivas, a diabetes gestacional, a resolução do nascimento por cesárea, as infecções pós-parto, o trabalho de parto prolongado2,4-5,7. E desencadeia os riscos fetais como a macrossomia, os neonatos obesos, os defeitos cardiovasculares, as fissuras orofaciais, a atresia anorretal, a hidrocefalia, os defeitos de redução de membros, a hérnia e os traumas de nascimento, natimorto e a morte perinatal. Agrava quando as gestantes tornam se obesas no terceiro trimestre da gestação3-5,8-10.
Ainda, como consequência ao neonato relaciona os defeitos no tubo neural, a mais diagnosticada é a espinha bífida. Chama a atenção que a obesidade infantil é um fator para a obesidade na adolescência e na vida adulta, independente do estilo de vida4,8.
O aumento do IMC das mulheres na gravidez provoca maior gastos na saúde, às complicações levam ao pré-natal de alto risco, acarretam mais consultas, exames laboratoriais e ou de imagem3,7.
Destarte deste panorama, o objetivo é identificar o IMC pré-gestacional e relacionar com dados sociodemográficos e obstétricos das puéperas; e identificar o IMC pré-gestacional e o ganho de peso na gravidez associados às características dos neonatos.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo, prospectivo. Desenvolvido na unidade de obstetrícia, do Hospital da Criança e Maternidade da Fundação Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FUNFARME), interior de São Paulo, Brasil, que é referência para gestação de alto risco. Possui 45 Leitos, com média de 320 partos ao mês, financiado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), convenio e particular.
Para a amostra considerou os seguintes critérios: ser maior de 18 anos; ter a carteirinha do pré-natal no momento da entrevista, gestação de feto único, ter realizado o parto há mais de 6 horas e aceitar participar, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A coleta aconteceu de maio e junho de 2016, de segunda a sexta feira, no período da tarde. Para a coleta dos dados utilizou-se um instrumento composto dos dados maternos, obstétricos, peso, coletados da carteirinha do pré-natal e os dados do neonato da Declaração de Nascido Vivos.
Quanto a variável do peso materno foi considerado o Índice de Massa Corporal IMC=Peso(kg)/Altura(m)². O ganho de peso ideal na gestação correspondente à classificação do IMC, ou seja, o IMC negativo é <18,5 Kg/m², recomendam a ganhar por semana em média 0,5Kg, até o final da gestação de 12,5 a 18,0Kg; o IMC Adequado é de 18,5 até 24,9 Kg/m², pode ganhar em média semanal 0,4Kg e chegar a 11,5 a 16,0 Kg no ganho total; o IMC Sobrepeso é 25,0 a 29,9Kg/m², ganho de 0,3kg/média semanal e 7 a 11,5 Kg no total; o IMC Obeso é >=30 Kg/m², deve ganhar em média 0,2Kg/semana e de 5 a 9 kg até o final da gestação10.
Os dados foram analisados, utilizando-se o software IBM SPSS Statistical Package v.22 (IBM Corporation, Armonk, NY). As variáveis categóricas são apresentadas como números absolutos e percentuais e as variáveis contínuas como média e desvio-padrão. Devido à ausência de distribuição gaussiana, as variáveis contínuas foram comparadas utilizando-se testes não paramétricos (Mann-Whitney ou Kruskal-Wallis) e as amostras pareadas foram comparadas, utilizando-se o teste de Wilcoxon pareado. Para comparação das variáveis categóricas, utilizou-se o teste exato de Fisher ou o teste qui-quadrado de Pearson, quando aplicável.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto–Autarquia Estadual (FAMERP) parecer No. 1.541.148, de acordo com as normas do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Resolução 466/12.
RESULTADOS
As puérperas que atenderam os critérios de seleção totalizaram 187 (100,0%) binômios. Ao classifica-las de acordo com o IMC pré-gestacional detectou que o IMC variou de 16 a 53kg/m², com a média de 25,0 ± 5,9kg/m². Com sobrepeso e obeso atingiu 41,2% das puérperas, com a média do IMC de 33,7 ± 5,0kg/m², destas 55,8% eram obesas, chama a atenção que entre elas 11,6% apresentavam o IMC superior a 40kg/m² (Tabela 1).
A faixa etária das puérperas compreendeu na mínima de 18 e máxima 41 anos, com a média de 26,0 ±6,3 anos. Houve um aumento progressivo do peso (P=0,009) de acordo com o aumento da idade das mulheres, não houve diferenças estatísticas em relação à etnia, situação conjugal, escolaridade, fatores de risco ou munícipio de origem das puérperas (Tabela 1).
Não ter companheiro foi realidade de 63,9%, das puérperas, as com IMC elevado esta porcentagem foi de 55,8%. O tempo da escolaridade variou de zero a 16 anos, com a média de 9,5 ±2,8 anos; e 43,3% eram assalariadas. Quanto ao consumo de drogas na gestação, verificou que 10,7% eram tabagistas; 3,7% consumiram álcool e 1,1% utilizaram drogas ilícitas (Tabela 1).
Tabela 1. Distribuição das puérperas de acordo o índice de massa corporal pré-gestacional e suas características sociodemográficas. São José do Rio Preto, SP, 2017
*Média e desvio padrão.
Nas características obstétricas averiguou-se que 46,0% eram primíparas, destas 39,5% com o IMC superior a 25kg/m², as puérperas com duas ou mais gestações ampliou para 67,5% este IMC, mas não houve diferença significativa (P=0,310) (Tabela 2).
A média de filho foi de 2,0 ±5,6, entre as puérperas obesas a média foi de 2,0 ±1,2, (P=0,375). O aborto acometeu 18,2% das puérperas, e ainda 2,2% referiram filho morto com idade inferior a um ano. O espaço intrapartal variou de 1 a 24 anos, com média de 5,5 ±4,1 anos (Tabela 2).
Nesta gravidez todas iniciaram o pré-natal no primeiro trimestre, com a média da idade gestacional de 8,2 a 9,2 semanas de acordo com o IMC; frequentaram de duas a 23 consultas, com média de 8,6 consultas ±2,9. Já as mulheres obesas compareceram em média a 9,7 consultas ±3,5, apesar do aumento no numero das consultas não houve significância. (Tabela 2).
O ganho de peso na gestação variou de 14 a 28 kg, com média de 11 Kg ±30 Kg, das puérperas que ultrapassaram o ganho de peso recomendado, 47,1% eram as com sobrepeso e 46,5% as obesas, não houve diferença significativa entre os grupos em relação ao ganho de peso (Tabela 2).
Tabela 2. Distribuição das puérperas de acordo o índice de massa corporal e as características obstétricas. São José do Rio Preto, SP, 2017
*Média e desvio padrão.
As puérperas de municípios da região de São José do Rio Preto corresponderam a 74,9%, ou seja, 25,1% eram residentes no município de atendimento. Entre os outros motivos para a internação, encontrou que 7,5% eram parturientes; 6,9% por alteração na quantidade de líquido amniótico; 4,4% com doença infecciosa que foram 2,2% com diagnóstico de Zika e 1,1% por Sífilis e igualmente por Toxoplasmose.
Na Tabela 3, apresenta a associação do IMC pré-gestacional com os principais motivos de internação. A síndrome hipertensiva representou 28,9% das internações, destas 83,3% por pré-eclâmpsia. As puérperas obesas foram mais propensas a desenvolverem Síndrome Hipertensiva Gestacional 39,5% vs. 9,1%; 15,2% e 35,3%, respectivamente (P=0,003) e por hipertensão arterial crônica 11,6% vs. 0,0%, 1,0% e 8,8%, respectivamente (P=0,026). As mulheres com diabetes mellitus totalizaram 19,1%. A porcentagem de Diabetes Mellitus Gestacional aumentou com o peso, representou 5,1% das puérperas com peso adequado, 8,8% sobrepeso e 14,0% entre as obesas, sem significado estatístico (P=0,209).
Tabela 3. Principais Motivos de internação das puérperas e associação com o IMC pré-gestacional, (n=71), São José do Rio Preto, SP, 2017
Nasceram por cesárea 86,6% dos neonatos, destes 45,7% de mães com o IMC de sobrepeso e obeso, e 55,4% dessas cesáreas aconteceu antes do trabalho de parto; e os outros 13,4% que nasceram de parto vaginal, mães com IMC elevado representou 12,0%, não houve significância com tipo do parto (P=0,016), houve um discreto aumento de cesárea antes do trabalho de parto nas mulheres obesas, mas sem diferença significativa (P<0,001). As mulheres com historia de cesárea anterior foram submetidas a cirurgia da cesárea antes de entrar em trabalho de parto (Tabela 4).
No período diurno nasceu 55,0% dos neonatos e no noturno 45,0%, a média da idade gestacional ao nascer foi de 37 semanas e 6 dias ±1 semana e 6 dias; 55,5% eram do sexo masculino, o peso variou de 1005 a 4700g, com a média de 3146,8g ±559,7g; o Apgar no primeiro minuto variou de 3 a 9, com a média de 8,5 ±0,9, e no quinto minuto de 7 a 10 e a média de 9,6 ±0,6; para o alojamento conjunto foram 97,9% dos binômios. Detectou que 2,1% dos neonatos tinham má formação e as suas mães apresentavam o IMC adequado (Tabela 4). As variáveis descritas na Tabela 4, não apresentaram significância estatística.
Tabela 4. Distribuição das puérperas de acordo com o índice de massa corporal e as características do parto e do neonato. São José do Rio Preto, SP, 2017
*Média e desvio padrão. AC=Alojamento Conjunto
As análises estatísticas representadas na Tabela 5, constatou que não houve diferença estatística entre a idade gestacional dos grupos analisados. O peso dos neonatos das puérperas obesas foi superior 3368,6g vs. 2900,5; 3067,6 e 3176,8g, respectivamente (P=0,034). Houve correlação positiva entre o IMC materno pré-gestacional e o peso do RN ao nascimento (rho –0,219; P=0,003), porém não houve qualquer correlação entre o IMC materno pré-gestacional e o Apgar dos RNs em 1 e 5 minutos e ganho de peso no final do segundo trimestre e no final da gestação. Também não houve correlação entre o ganho de peso da gestante ao final da gestação e o peso e Apgar dos RNs.
Tabela 5. Correlação de Spearman entre o IMC materno pré-gestacional e o ganho de peso ao final da gestação com as características dos recém-nascidos. São José do Rio Preto, SP, 2017
DISCUSSÃO
As puérperas com o IMC pré-gestacional adequado representou 52,9%, outros pesquisadores constataram na África 68,0%, em Hamburg 63,0%, na Itália 65,9%, enquanto que na Suécia a prevalência de mulheres obesas foi 65,0%11-14.
A média de idade de 26 anos das puérperas foi igual a da cidade de Aracaju, já em Juiz de Fora a média foi 24,3 anos, com ±5,7 anos, quando comparado com país europeu, na Itália, a média de idade sobe 33 anos14,15. A idade materna corroborou para a obesidade pré-gestacional, tanto na África como no Brasil, e de acordo com a Pesquisa Nacional de Demografia em Saúde (PNDS), quanto maior a idade da mulher maior foi o IMC12,16.
O tempo de escolaridade variou de zero a 16 anos neste estudo, a PNDS e Vigitel comprovaram que quanto menor a escolaridade maior a obesidade, e ressaltaram que as mulheres com maior poder aquisitivo e mais tempo de estudo apresentaram menor índice de obesidade16,17.
Quanta a paridade identificou 24,0% de primíparas e 23,5% multiparas com o IMC elevado e realizaram um maior numero de consulta no pré-natal, corroborando com o achado no sul do Brasil, detectou 24,0% de primigestas, contrapondo com 49,3% de multigesta com IMC elevado, e confirmou maior numero de consulta no pré-natal18.
No Paraná, na avaliação do pré-natal de gestantes de alto risco, verificou que 52,4% estavam com excesso de peso e 70,5% eram multíparas15. A paridade e obesidade são como dose-resposta, ou seja, as multíparas apresentam maior chance de serem obesas16.
Entre as puérperas que ganharam peso inadequado na gestação 69,2% estavam com sobrepeso ou obesas, diferentemente, na Itália, as mulheres com baixo peso ganharam mais peso durante a gestação (12,8 ±3,9kg) em comparação com as de peso adequado (12,3 ±6,7kg) e excesso de peso (11,0 ±4,7kg)14. Em Hamburg, Alemanha, e na Suécia, a porcentagem de gestantes que engordaram acima do recomendado correspondeu, respectivamente, 22,0% e 54,9%11,4.
O IMC pré-gestacional e o ganho de peso neste período têm consequência para o neonato, como a hipoglicemia, a macrossomia, e a permanência em UTI neonatal. Para as gestantes as complicações são síndrome hipertensiva, com destaque a pré-eclâmpsia e diabetes gestacional12,19-21.
Consoante com essas possíveis complicações maternas, a síndrome Hipertensiva foi o motivo da internação de 28,9% das puérperas, que depois desencadeou o nascimento. A síndrome hipertensiva gestacional é uma das causas de morte materno e fetal, o aumentando da idade materna concomitante com a obesidade provocou a pré-eclâmpsia em gestantes da cidade de Cabo Verde, África11. No Paraná, as principais causas de internação das gestantes foram semelhantes às encontradas nesta pesquisa, primeiro por hipertensão arterial sistêmica (HAS), seguida pela síndrome hipertensiva gestacional (SHG) e a diabetes mellitus (DM) agravadas nas gestantes com o IMC elevado15-22.
Neste estudo, ainda chama atenção que 6,9% das gestantes internaram por alteração na quantidade de líquido amniótico, o que a transforma em gestação de alto risco, pode ser o oligoidrâmnio que é consequência de um envelhecimento placentário precoce que diminui a nutrição do feto e ocasiona o parto prematuro, ou polidrâmnio que é o aumento de liquido amniótico23.
As internações por Zika representaram 2,2% das gestantes, seguidas de 1,1% por Sífilis e igualmente por Toxoplasmose. As doenças infecciosas e com transmissão vertical estão acometendo cada vez mais as gestantes, assim, comprometendo a saúde dos neonatos, destacando-se a Zika, a Sífilis e a Toxoplasmose24-25. No Brasil, identificou-se uma relação da infecção Zika na gestação com a microcefalia, esses neonatos possuem o perímetro cefálico menor que 32 cm e nasceram de gestantes que tiverem contado com Aedes Aegypti em regiões de epidemia24,26-27.
Ao Norte do Brasil, há mais incidência de casos de sífilis congênita devido ao baixo índice de cobertura do pré-natal, levando a cegueira neonatal e malformações24,28-30. Para diminuir as complicações neonatais é indispensável à assistência do pré-natal, pois segundo o protocolo do Ministério da Saúde do Brasil, na primeira consulta são solicitados os exames como Venereal Disease Research Laboratory (VDRL), usado para detecção de sífilis e imunoglobulina G (IgG) para Toxoplasmose, quando o resultado é positivo significa que a gestante já entrou em contato com o agente e deve ser tratada para evitar as complicações para a criança23,25,29-31.
Um indicador de qualidade da assistência do pré-natal é o inicio precoce, para detectar e prevenir doenças maternas/fetal31-33. O aumento da prevalência de diabetes mellitus e da síndrome hipertensiva na gestação esta associado ao crescimento da obesidade na população brasileira; cerca de 18,9% estão obesos, esse fator duplica a partir dos 25 anos de idade20. A assistência à mulher para um ganho de peso adequado na gestação deve começar com o planejamento familiar, controlando o peso e as doenças pré-existentes que agravam com aumento do IMC35.
A cesárea prevaleceu como forma de nascimento, e 55,4% das puérperas que realizaram a cesárea antes do trabalho de parto estavam com o IMC elevado. O tipo de parto tem associação com o IMC da gestante, as obesas possuem a probabilidade duas vezes maior de serem submetida à cesárea, enquanto que nas gestantes com obesidade mórbida este índice aumenta sete vezes14. As mulheres com IMC inadequado são submetidas à cesárea com maior frequência, porém esse fator é só mais um no Brasil, que é um dos países com maior índice de cesárea. Segundo dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC)35-36, em 2013, as regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste apresentarem maiores taxas: 61,4%, 60,6% e 61,7% respectivamente comparada com a região Norte 44,5% e Nordeste 48,4%37. Como várias cesáreas são agendadas, acontecem concentradas nos dias da semana e em horários comerciais; os partos vaginais são distribuídos de forma semelhante durante toda a semana 33-35,37.
Houve uma correlação positiva entre o IMC materno e o peso ao nascer do neonato. Revalidando esse achado, pesquisadores comprovaram que as gestantes com IMC <25kg/m² foram compatíveis com neonatos com peso inferior a 2,500g, significativamente mais leves do que as com sobrepeso e obesidade20,36. Os neonatos com maior peso nascem de gestante com IMC ≥25kg/m2 e também apresentam maior índice de parto pré-termo13-14,16-17. Os nascimentos prematuros têm maior relação com as cesáreas, e são indicadas em caso de complicações materno/fetal. Há uma associação entre o parto prematuro e o baixo peso ao nascer em estudo realizado em Porto Alegre38.
Esclarece que uma limitação do estudo foi o tempo para coletar os dados, devido às atividades curriculares da acadêmica. Realizando a coleta a partir das 17h de segunda-feira a sexta-feira, quando terminava as atividades acadêmicas.
CONCLUSÕES
O IMC pré-gestacional variou de 16 a 53kg/m² e apresentou um aumento progressivo com a idade, acometeu 24,0% das primíparas e 23,5% das multíparas. A síndrome hipertensiva foi o motivo de internação de 51,9% das gestantes com IMC ≥ 25Kg/m². O IMC materno teve correlação com maior peso do neonato ao nascer, mas não houve qualquer correlação com o ganho de peso na gestação.
A avaliação do estado nutricional deve acontecer no planejamento da gestação para evitar futuras complicações. Os profissionais de saúde deve conscientizar a mulher quanto à sua alimentação e a influencia desta no ciclo gestacional e no crescimento do seu filho.
Financiamento
Pesquisa foi patrocinada com uma bolsa de iniciação científica do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Conflito de interesses: Os autores declaram que não houve conflito de interesses.
REFERÊNCIAS